Arte Noturna
Wesley Faria
A tela me chama, eu
respondo,
A imagem me pede para
que a pinte, eu a atendo,
Vou, sem pestanejar,
sem saber ao certo o que ela quer me contar,
Vou, pinceis e mente
apostos, vou, simples e presteiro me vou,
Me entrego à ela, me
apaixono, me encanto, a violo e ela a mim.
A tela não mais é
prancha de trabalho, é paixão e como toda paixão é atalho,
É quem sempre amei e
finalmente me retornou uma ligação,
É o sorriso de minha
mãe que me cantarola uma canção,
É minha filha e é meu
irmão,
A tela é espaço,
imensidão,
No qual me encontro
sem precisar me perder,
Me perco, sem precisar
me encontrar,
Vai ver que eu nunca
me achei,
Vai ver que foi ela
quem me achou,
E com suas mãos suaves
e gentis,
Me fez um gesto sutil
como quem diz:
“vem”
E eu fui,
Aqui estou, nu, diante
do mundo,
Nu, paralisado e mudo,
Com as cores de mim,
Trajado de ti,
Antes de ti, um cheio
do nulo na ilusão do nada,
Depois, um nulo cheio
de nada ao redor de nós,
Agora, todo minuto é
um minuto a sós.