terça-feira, 6 de dezembro de 2011


Cena noturna
W.Faria

Risca de giz no céu de anis,
Risca de giz na noite negra,
Uma pausa, um brilho, uma estrela.
Dentro da estrela um ninho de sonhos nebulosos,
Dentro de cada sonho um ninho de angústias sagradas,
Que rasgam o céu e sangram melodias pelo vão de suas palavras.
Choro declamado, anjos de cordel, chapéus de palha que giram,
Pairam no oco do tempo.
Oscilando em cores pelas matas,
Rodopiam e emudecem ribeirinhos que se olham assombrados,
Frente ao disco enevoado e seus filhos, panças-cheias fatigados, vermífugos cantarolando canções de roda, se embrenham mata a dentro em busca de redenção.
Logo a senhora elegante trajada de negro cintilante se retira do salão
Abre mão de sua paz para um amigo que ali se faz,
Ele vem, rasga a carte, seca a lágrima e cada gota de água do organismo,
Talha a vara, varre o pó, reorganiza o povoado,
Colocando cada um em sua casa,
Finaliza assuntos, faz o menino bebericar na fonte de um açude quase torpe.
O gado para, o tempo para, o dia para, o homem para, só ele continua,
Ponta a outra, egoísta, frio e solitário, expurgando cada ser vivente,
Dando e tirando a vida,
Ele vai, até tocar o chão,
É quando devolve a senhora de negro ao salão,
Que proclama independência noturna pelas terras e pelas camas,
Traz o sonho para o lar,
Ela sim, aquieta o berço,
Ela sim é quem faz ninar.

"de dia no sertão o diabo dança, a noite o diabo corre."

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