quinta-feira, 31 de maio de 2012

domingo, 20 de maio de 2012


Flor da Candeia
Wesley Faria

Na acinzentada lua branca, 
uma luz toca o chão frio da varanda
A cadeira debaixo da janela,
umas roupas no varal,
Um livro de nietzche,
um de bretch ou de suassuna, 
não consigo ver direito o autor,
Aqui deste quintal,
Aliás, não sei nem se nietzche existiu de fato,
Já Cancão, Zé da Luz e Suassuna eu garanto o relato.

A luz vinha de leve e temperava a plantação,
Enquanto o café bulia o cheiro da paz feita a mão, 
Um perfume de flor branca me arrancava do chão,
Escrevia verso e poesia, na mente, no peito e na mão,
via a cor da luz do dia, No meio da noite, bem no vão.

A casa, de escura se transformava,
Quando ela, devagar, passava,
Do quintal eu posso ver,
Luzes feito asas saindo de suas costas,
Uma saia engomada, com fitas brancas bem postas,
E Um andar assim macio, feito orvalho na roça,
Eu de longe espiava, que era pra não ser notado,
Afinal nunca deu em coisa boa, espiar envergonhado,

Para espiar é preciso ter coragem,
Pois se tudo der certo como é que se vai fazer?
Não se pode deixar a ocasião, aos poucos covalecer,
Então para olhar ligeiro, mesmo assim sorrateiro,
É preciso muito mais peito do que galo de terreiro.

Ainda mais para espiar uma moça tão distinta, 
Que merece só se olhar, 
Pra tocar com a mão já grossa de tanto trabalhar,
É preciso botar luva, pra sua pele não arranhar
Mas a moça ia e vinha, acho até que se engraçava
Pra um moço mieo sonhador que de longe a observava.

Eu, tremendo de tanto frio, ou de tanto medo mesmo,
Não consegui manter o semblante de homem caminhante,
Que não estava observante, tava mesmo só passante.

Enquanto eu me aprimava, a lua se apagou, 
Feito nuvem que se vai e a moça se adentrou 
na casa de vosso pai,
Todo dia eu espiava, quando voltava do trabalho,
procurando aquela moça, aquele cheiro, naquele horário,

Nunca mais eu vi a moça, Nunca mais o cheiro bom,
Nunca mais a luz da lua, nunca mais o velho tom,
Mas quem sabe ela volta um dia, com sua pele macia
e seu cheiro de flor, seu andar ajeitado,
que me carrega por onde for,
E resolve dar uma olhada, 
pra esse jovem escritor.

domingo, 13 de maio de 2012

"Não acredito em uma paixão que não possa virar canção." Wesley Faria

"Não acredite em nada que não possa virar canção." Wesley Faria

terça-feira, 8 de maio de 2012

O último homem

O último homem
Wesley Faria


quando o último gole for derramado,
quando o último grito ficar rouco,
quando o lampejo for um lume riscado,
quando o último cristo ficar louco,
quando o calvário for um corte solto,
o homem entenderá seu valor,

Quando a última moeda perder seu brilho,
quando a última nota for rasgada,
quando a última estrela cadente tombar,
quando a última página for lida,
quando a última folha secar,
o homem entenderá seu valor,

Valor imaginário, dissoluto em barro seco,
valor seco, dissoluto em barro imaginário,
barro da vida, dissoluta em valores secos,
Secos homens caminharão sobre a terra,
tentarão semear as últimas farpas de vida,
tentarão aguar as últimas memórias de sonho,
ruminarão pesadelos nucleares,
colherão rosas de onde nem o lodo nasce mais,

Homens e mulheres migrarão, filhos em punho,
punhos de crianças servirão de brasões,
serão então imigrantes de uma terra de ninguém,
serão então imigrantes de uma terra de ninguém,
onde ninguém mora ou morou,
onde ninguém sonha ou sonhou,
onde ninguém caminha ou caminhou,
onde ninguém jamais existiu,

Quando o último golpe for dado,
e a luz tocar a fronte,
o último homem, de cima do monte,
desejará nunca ter entendido seu valor,

Quando o último golpe for dado,
e a luz tocar a fronte,
o último homem, de cima do monte,
desejará nunca ter entendido seu valor,
podendo assim caminhar com seu sorriso
entalhado a lâmina fria no rosto de mármore,
Desfrutará da doce ignorância que move os seres,
Caminhará com passos largos,
pisará na lama e verá jasmins,
sentirá envolto ao amor dos muitos,
mesmo solitário em sua prisão invisível,
caminhará onde ninguém caminhou,
existirá onde ninguém existiu,
Conquistará oque ninguém conquistou
e desistirá, quando ninguém desistiu.


sábado, 5 de maio de 2012

Conto de um pequeno amor


























Conto de um pequeno amor.
Wesley Faria

Conta  a história de uma menina órfã que nasceu em uma pequena cidade do interior chamada Nova Esperança, filha de agricultores cresceu sem muito estudo e muito conhecimento do que vinha a ser o amor, sempre dedicada ao campo e as coisas de casa um dia, como era de costume, ela foi ao meio da plantação da familia e se deparou com um espantalho sorridente que lá estava, fazia sombra para as folhas novas e para os bichos que ali se deitavam, em um momento de introspecção sentiu que a mão do espantalho recaia sobre seu ombro, muito apavorada ela olha para o espantalho e diz, quem é você para tocar em mim? não sabe que sou pura de coração? neste momento o espantalho, aquele ser sem vida e sem luz responde a menina:

"como pode se julgar pura sem saber oq é a sujeira?"

ela se ajoelhou, olhou para a procissão de sentimentos que trazia no peito e percebeu que para nenhum deles ela poderia dar o nome de amor e perguntou ao espantalho:

- e como faço para conhecer o amor?

o espantalho olhou, com seu tom de terra envelhecida e suas vestes de judas e disse quase que sussurrando:

"para conhecer o branco, deve se conhecer o preto,para se ver o céu, deve-se ver a terra,assim, não se conhece o amor sem viver a tristeza e não se vive a pureza sem provar da sujeira,por isso quando quiser conhecer o amor,pense bem se já conhece os outros sentimentos, afinal, só quando conhecer a direção errada poderá imaginar um  caminho melhor, antes disso...
...toda contramão será o caminho certo.