quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mar vermelho



Oq se vê no horizonte? ventos frios, céu noturno e trevado. Donde vem o vento? donde vem a escuridão? Donde vem o frio que corta as cortinas rumo a face? somos apenas plumas sob a tempestade, gelo sob o sol, seres repletos de resiliência tentando cruzar o mar vermelho.

Mar que se finda e se reinventa no rochedo, onde ancoramos ou batemos,
oq difere a chegada é o rumo que tomamos.


Finda noite, finda dia, vida, sorte ou vazia.

Improviso, dia 30/12/09 - 21:18

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Auterego.


O ho
mem do chapéu vem, vai, sorri e sai,
deixa seu rastro de felicidade numas poucas
letras tangidas por sua mão, escritas com
amor num pedaço de papel de pão.
Salve homem do chapéu, salve.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Drem a little dream with me





























A Velha Praça

Na praça não passa luz,

A luz não passa apressada,
A praça que me conduz,
À luz que passa com graça.



Na praça um velhinho
sorri,
Na praça passeia um gurí,
Com bola,
sua pipa e peão,
E com seu mundo em uma mão.

Na praça não tem nevoeiro,

Preocupação e desespero,
O tempo pára na praça,
O mesmo tempo, que passa,
Com luz, beleza e graça.

Ao meu lado a dama da praça,
Mas não da praça em que passam,
O velhinho e o gurí que anda em vão,
A dama a qual me refiro, que me arranca sorrir e suspiro,
é dona da luz e da graça da praça do meu coração.


w.faria


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

No Mais - Poema Noturno 02:08


No mais - Wesley Faria

No mais, vai tudo bem,
Sem nenhum poema pra me iluminar
No mais, vem vindo alguém,
Com uma velha boa nova, pra me dar
No mais, não sei mais não, a vida no chão,
A vida se vai, pra trás.

No mais, vai tudo bem,
Sem mais ninguém, pra perturbar,
Pra me arrancar da cama, às três da manhã, a vida tão vã,
e sã sem sal.
No mais, vou ler meu jornal, pra mim tanto faz se chove ou faz sol,
No mais, não quero falar, vou ir por aí, vender o meu pão,
No mais, plantar uma flor, morrer de amor, ou de solidão.

O Menino sem sombra – Wesley Faria

Todos os dias ele passava diante do espelho e tinha a certeza inenarrável de que não fazia a mínima diferença para o mundo que o cercava. Pensava que era uma espécie rara, um ser em extinção, em extinção até mesmo do dicionário, um menino sem sombra, sem chance de ser notado, achava que seu receptáculo de sonhos, sua caixa torácica estava vazia, sem vontades e objetivos era de se esperar que ele tivesse medo de tudo, medo de estrelas, da noite, do sol, do açoite, do choro e do riso, do áspero e do liso.
De fato não tinha muito do que se gabar, só mesmo do que se amedrontar. Só não tinha medo do silêncio, que lhe varria a alma diariamente, que lhe sussurrava ao pé d'ouvido o quanto ele era bonito, o silêncio, seu amigo de sempre que lhe acolhia pelas noites, que cantarolava sonetos ultra-românticos que lhe embalavam a alma.
Mas algo estava fora do normal e ele já suspeitava. Seu jornal não lhe dava mais cobertura, seu papelão não lhe esquentou de fato, deu falta até do seu sapato, que embora furado, sem cordão ou palmilha, para proteger do chão era uma maravilha.
Nada de escuro ou de pensares noturnos, naquela noite, naquela soturna noite ele ouviu um som que mudaria pra sempre sua vida sem sombra. Era um som estranho, um tanto quanto agudo, um tanto quanto sutil, uma candura de som, um som que deslizava lentamente para seus ouvidos. Levantou-se e deixou-se levar pelo som, o seguiu por entre as ruas, os becos, os cães e guetos até que encontrou um jeito de observar sem ser notado, por cima de um muro.
Um homem estranho se movendo de forma estranha, com um arco na mão, que mais parecia uma vara de se bater em criança levada, assim como acontecera durante toda sua vida, mas ele não sentia medo, afinal era um som tão harmonioso e cativante que ele saltou o muro e caminhou para mais perto. O homem, por sua vez, não parava de tocar, de solfejar aquelas notas mágicas, aqueles sons estranhos que lhe atraía, mais e mais. Por um minuto o menino sem sombra pensou sentir algo diferente, mas como pode? Ele não sentia, não pensava, ao menos era o que aparentava, porém, e sempre existe um porém, o menino viu algo que lhe assombrou a alma, que aliás não sabia que tinha. Ele se viu cantarolando, bailando sobre o luar, embalado pelas notas saltitantes que saiam do instrumento deveras curioso.
Tratava-se de um violino, rajado e tigrado, 4 quartos, arqueado por um músico apaixonado, nos seus olhos o menino enxergava a lua, o céu estrelado e os sonhos, a muito esquecidos, até mesmo os não sonhados olhavam pra ele através dos olhos do senhor de vestes distintas, casaca meio fraque e cartola combinando. O menino sem sombra ficou toda a noite em claro, embasbacado diante daqueles sons, e a noite foi pequena para a extensão de seus sonhos, tão pequena que logo raiou o sol, o rei das cores e calores, que de tão quente, tanto que o musico foi obrigado a guardar seu violino em sua caixa preta e ir-se por entre as sombras das árvores da calçada, o que deixou o menino, pensante e com um sorriso estampado em sua carinha estonteada. Pôs-se a caminhar de volta e tinha agora, apenas um pensamento a seguir, aquela musica o dominara por completo e ele repetia pra si mesmo o quanto era doce redescobrir o sonho, e, pouco a pouco foi percebendo que o sol iluminava seu corpo e algo mágico acontecia sob seus pés, sua sombra pouco a pouco aparecia, o que o fazia pensar que a única coisa que faltava para seu surgimento era se deixar luzir pelo sol, ou pelo sonho, já não fazendo mais importância a ordem das palavras, só mesmo seus sentidos. O sol, a sombra e o menino eram feitos da mesma matéria, os sonhos, que agora se reinventavam diariamente em sua mente, metas e objetivos calcados na arte.
Enfim, o menino sem sombra agora poderia ser notado, visto como um ser que pensa, ser que sonha, um ser vivo.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Meu peito é teu.

Recosta teus olhos em teu leito de repouso,
Sente teu peito luzir e ser acariciado pelos brancos brilhos d'aurora.

Enrosca teus sonhos nos pensares mais leves e tenta ter calma ao menos por uma noite,
Abre teu coração como flor em botão e torna viva a cor de tua alma.

Se sentires falta de algo como uma canção a tira colo, ao leito da janela, avisa-me que encontro teu penar e alivio-te a dor, levo o som do banjo pra tua janela e sussurro baixinho para não perturbar a calma da noite que dorme.

Recosta teu sono em meu peito e diz-me quanto dói o "não ter" de amor que lhe rasga o peito.
Faça um desejo, jogue uma moeda, veja uma estrela cadente e sorria, Meu peito é teu.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

INSÔNIA!

Donde vem a luz que me remove os sonhos?
Donde vem tal som que emudece a noite?
Donde vem o trepidar que me acolhe o peito?
Donde vem o incômodo vento quente que me toca a fronte?
De certo que não me encontro a pestanejar
De certo não tenho o sonhar
De certo não acho nem certo a tal desejar
Porém o que quero dizer é o não dizer,
E o que quero desejar é o não desejar, o desdizer,
O Destruir dos verbos em seus particípios e plurais
Quero o silêncio, o santo sepulcro dos vendavais
Quero o dormir o sono dos amantes, que esperam os amores de um novo dia
Quero arrancar a insônia da alma, que de fato me deixa vazia
Quero o não saber, por algumas horas, o luzir de um dia pela janela
Quero a janela, quero a paisagem de um dia claro,
Mas o quero pela manhã, por enquanto só quero dormir.

domingo, 25 de outubro de 2009

Já corri demais

Da janela posso ver o poente, que nunca toco.
Pela porta passam os vultos dos sonhos antigos, que não mais irão voltar.

E debaixo da macieira uma velha, sentada e sorridente, com um cesto de maçãs podres nas mãos, em cada maçã um sonho, em cada sonho um odor diferente.

Os pés só caminham mais dez ou vinte passos, nada mais de quilômetros, eu já corri demais e agora quero sentar e descansar, mesmo que a única coisa que tenha para comer sejam essas maçãs...podres.



Para minha avó distrímica.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Mar Morto

Não vi o sol essa manhã, seu brilho não refletiu nas ãguas do mar como um vulcão prestes a explodir sua luz na'reia. Não vi as ondas, com voracidade, lamberem a praia.Não ví sequer um surfista beira mar fazer sinal da cruz, não ví. Nem gaivotas nem estrelas-do-mar ou velhinhas se banharem com seus maios cheios de flores, nem velhinhos na cadeira mirando o horizonte. Não ví tatuagens, nem biquinis pequeninos tapando o que se quer mostrar. Não ví.
Vi apenas uma inércia marítma cheia daquela nostalgia que fazem os escritores se inspirarem. Hoje pela manhã, o mar estava morto.

domingo, 4 de outubro de 2009

Quem volta do mar

Num canto de Iara percebo a mudança das ondas,
A lestada forte que renoa o negrume das águas.
Os pescadores que se entrelaçam com a neblina
E a neblina que definha lentamente rumo a praia.
O perfume suave da manhã que começa tomar o cais
Num turvo amanhecer que se despe para o dia vestido de sol
O negrume, agora pardo, se transforma num verde água apaixonante.

O mar e o dia parecem sorrir,
Vejo calcanhares molhados,
Pescadores contam suas piadas no bar mais próximo
Mas logo vão pra casa
abraçar suas esposas, flores morenas, louras, multicores,
Que aguardam para ouvir da noite na lida,
Logo vão conversar com Deus,
Olhar nos olhos de suas filhas e abracá-las.

Tomar um café e afagar seus cães.Logo irão dormir.
E tão logo o mar os tomarão novamente e, sutilmente, se vesitirão com a turva e doce neblina, neblina que vem, languidamente, apagará o colorido do mar, dos barcos. Por fim tomará seus corpos descansados mais uma vez, mais uma noite
até que um dia, não mais havendo surpresa, ninguém mais volte da boca da noite.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Flor Violeta


Acho que não vi direito, parecia estrela, parecia mulher, parecia uma flor beirando o rio,
Não sei se consegui enxergar a cena, acho que não vi direito,
Não sei se era claro ou escuro, da paisagem nem me lembro mais, só lembro da flor violeta que dançava com os vendavais

Acho que não vi direito, devia estar delirando, uma flor violeta bailando,
tal qual bailarina a se apresentar
não sei se é flor ou gente, a luz piscou de repente e logo comecei a falar
-Linda! Linda! e tudo se fez num relance
num delicado carinho distante
da bela flor a bailar

Será possível uma flor com rosto de gente surgir assim de repente e lancar risadas no vendaval?
uma flor linda e rasteira, como um amor sem eira nem beira, me fez até passar mal
mas calma, eu ja sou suspeito, nem de afeto escrevo mais,
é ela a flor do meu afeto, que com aquele tom predileto, bailava nos temporais.
confesso, me entrego e não nego, da cena tirei proveito,
mesmo não vendo direito.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Eu do Mato
W.Faria

Gosto mesmo é de comer amora, goiaba e comer jamelão.
Rir um riso frouxo com os lábios roxos em profusão.

Gosto de andar descalço, leve, solto feito bicho, feito flor,
feito o morro que ninguém alcança.

Gosto é de nadar no rio, sentir o friozinho gelar a nuca,
caçar rolinha, roçar a relva e me vestir de flores e cipós.

Gosto do gosto de mel, não o enlatado, esse não me agrada não,
gosto do mel natural, aquele que é difícil de pegar e dá mais prazer em comer.

Gosto do cheiro do vale,
do canto do sanhaço, gosto de celebrar a vida ao léo, sob as estrelas
Sobre o topo brilhante do morro ao longe.

Por fim, gosto de ser a melodia do vento e sussurrar meu nome por onde passo,
assim, deixo um pedaço de mim por aí, pelo mundo e me torno ser sem dimensão,
difuso no ar, caído na grama e cheirando a jasmim, sou mais feliz assim.



segunda-feira, 14 de setembro de 2009





































Convidado

Não se zangue, já é tarde
a sala está tão grande sem vc
As revistas, bagunçadas
estão do jeito q vc deixou.
E a caneta, abandonada,
Espera por um novo trovador
Tudo aqui tem seu jeito, seu sorriso
Seu afeto, seu silência faz da sala um imenso corredor,
De lembranças, cicatrizes, da história que se foi e a que ficou.
O domingo a tarde, os acordes entoados
Nosso jeito de viver com menos dor
Nossa fuga do passado, nosso sonho mora ao lado
E sonhar não é pecado, não senhor.

No vazio deve ter algum lugar,
Onde eu vá e onde possa encontrar,
O irmão que nunca tive,
Minha imagem feito cópia a me esperar.

Põe um prato a mais na mesa e retira o da tristeza,
essa noite meu amigo vem jantar.

Homenagem ao amigo Maicon, pelos devaneios e sonhos compartilhados.

O Sabiá

Da janela entra um vento gelado, a luz do dia se foi a pouco, restamos a xícara de café, o Sabiá, cantarolado suavemente pelo Tom nas pequenas caixinhas de som do escritório, e eu, absorvendo toda a poesia dessa cena maravilhosa. Como eu queria ter escrito o Sabiá.

domingo, 6 de setembro de 2009

Sobre os domingos

Existe uma coisa inexplicável nos domingos, uma imagem um tanto quanto pálida, um tanto quanto melancólica, ela meio que se esconde pelos cantos. Mesmo em tardes ensolaradas existe uma certa coisa que ainda tento entender.

Hoje, domingo, 13:19, a chuva sussurra suaves melodias semitonadas por cima dos telhados. Me encanta o jeito com o qual a água explode suas gotas sobre a textura árida do chão de asfalto, e ao tocar o chão se torna particulas que enevoam a cidade.

O Domingo tem um doce aspecto de fotografia de criança, na qual estão reunidos entes e amigos, dos quais sentimos uma saudade terna. O sábado não tem a magia do domingo, a segunda também não, todos os outros dias possuem alma, sexta-feira, quinta e quarta, porém o domingo guarda em seu peito um emaranhado de razões para não se sair de casa e à uma delas nos entregamos ou certamente nos entregaremos um dia, é só questão de tempo.


Domingo é domingo e hoje me rendo à ele.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Alzira e o brilhante


Em algum lugar do espaço Alzira caminha soterrada por estelas, acompanhada de brilhantes fajutos comprados em permuta pelo abençoado beijo de tua boca.

Em algum lugar da boca Alzira abençoa as estrelas brilhantes, compradas por acompanhantes fajutos e soterrados, que amaldiçoam as permutas a caminhar.

Em algum lugar da estrela deve haver algum brilhante fajuto, comprado em permuta por Alzira que acompanha os beijos amaldiçoados, soterrados em tua boca.

Em algum lugar do brilho Alzira se perdeu, soterrou a estrela, caminhou com os acompanhantes fajutos e beijou os amaldiçoados. Alzira anda por aí, de corpo em corpo, vagando pelo espaco sideral.


Realejo da Poesia.

domingo, 2 de agosto de 2009

Antes do Sol



Antes do Sol - Realejo da Poesia - w-faria

Antes da noite, suor
Antes do sono, torpor
Antes da mágua, amor
Antes de tí, um não ser de mim.

Antes do tudo, quase
Antes das partes, tudo
Antes de ir, estagnar
Antes da escrita, pensar
Antes de pensar, agir.

Antes da meta, caminho
Antes de ver, querer
Antes do espaço, idéias
Antes da lua, um nulo de poesia
Antes da poesia, felicidade.

Antes da felicidade, fingir
Antes da estrela, nulo
Antes da nuvem, celeste
Antes do Sol, o sono.


terça-feira, 28 de julho de 2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

FRIO

Um dia frio, não consigo mais ler nenhum livro
o pensamento vaga por aí, apenas sinto e vivo.

Um dia triste, tanta fragilidade insiste
em me tornar refém do teu poder
Um dia ela desiste.

e por aí vai.(...)



terça-feira, 21 de julho de 2009


Companheiro inesperado.
w faria.

Sou o vento que corta a noite,
em pensamentos tórridos,
que rompe o sonho e rasga o sono,
que sonda a morte.

Sou o verbo com seu açoite,
que torna clara a noite lânguida,
que rasga a carne,
que sonda o sangue.

Sou a flor da tua candura,
que rasga o verbo,
que sonda a vida.

Sou a vida,
sou o verbo,
sou a carne,
sou a flor,
sou o sangue,
sou o açoite.

Muito prazer, eu sou o amor.



quarta-feira, 15 de julho de 2009

Mais uns

Pedantismo natural
w.faria

Enquanto eles vem eu vou,
Enquanto eles consomem eu me dou,
Enquanto eles fotografam, eu faço parte da paisagem,
Enquanto querem complascência, quero cumplicidade,
Enquanto eles desejam, eu caminho,
Enquanto eles pensam, eu faço,
Enquanto eles não sentem, eu amo,
Enquanto eles passam eu passeio,
Enquanto eles crescem, eu me acrescento,
Enquanto eles sofrem eu sorrio...

Na vida existem 2 tipos de pessoas, as que desenham o mapa e as que o percorrem.

Renascer


Devia ter ficado na areia, devia ter sentido a maresia de longe, não devia ter me envolvido coma s ondas daquela maneira, era como se o mar estivesse zangado, regurgitando e engolindo novamente suas águas. Mas não estava só e isso me bastou, ele olhava de perto a maré, analisava, pedia permissão para adentrar no reino de fitos e algas, no reino azul esbranquiçado daquele fim de tarde. De repente, num estrondo, sem pensar me pego rumo a água, como se houvesse confundido a maresia com um lençol enrugado estendido de forma desmazelada a cama, me lanço, quebrando a oração perfeita dele a beira d’água. O estrondo do meu corpo na água é tamanho que sinto penetrarem na pele recém resfriada milhares de agulhas, lancinante. A alegria de entrar em contato com outro mundo me causa uma comoção que me tira de sintonia com a realidade, remo ainda que meio desengonçado para algum pedaço calmo de mar, me pego a pensar no medo causado pelo tamanho da maré. Ele entra minutos após de mim e se lança com cuidado sob e sobre a correnteza enquanto eu me remexo como que se dançasse sob a espuma que fica, sem muitas delongas, cada vez mais brancas e maiores rumo a costa.

Um minuto, apenas um minuto foi tempo de sobra pra perceber que eu devia ter ficado na areia. Solavancos e cansaço, pessimismo e mais cansaço, as ondas me castigaram como se perguntassem pra mim onde estava meu respeito, como se tudo que pensava sobre o mar não passava de ilusões de um rapaz do interior com sonhos sobre mar calmo e caravelas. Me peguei com olhos arregalados e pedindo socorro como quem pede, num deserto, desesperadamente um copo d’água, clamando piedade marinha. Ergui os olhos e avistei gaivotas, imaginei meu corpo servindo de jantar num entardecer silencioso, num cobre-avermelhado rodeado por um azul enevoado. Ergui um dos braços, Deus sabe quão difícil foi faze-lo, gritei pra ele, pedi ajuda, um pedido exteriorizado acalmou meu clamor desesperado que devorava meu peito. Estremeci, outra onda massageou-me as costas e em seguida fui tomado por um volume incomensuravelmente grande de água, ajuda, pensei. As pernas já não obedeciam, os braços não me mantinham acenando pelo simples fato de que naquele momento já não tinha mais braços, era apenas um pedaço de mim que precisava de ajuda, sua ajuda, afundava e emergia com destreza, como se quisesse fazer parte do sal, da água e da areia. Para ser sincero já não sentia meu corpo, era apenas um algodão molhado, desespero. Enfim ele chegou, ele sim tinha a permissão dos mares para penetrar no azul, cortar as ondas, sabia o que fazer, nossa diferença de idade não importa absolutamente nada no modo como nos tratamos e naquele momento que sá existiu, obedeci ou ao menos fiz o que pude para dar ouvidos a ele, confesso que a dificuldade se deu pelo fato de ter que desviar de ondas, ter o corpo cansado, o desespero claro de que os esforços não iriam acabar na areia, cheguei a dizer que Não vou conseguir. Dez minutos aproximadamente, aproximava a mente de algum lugar sólido mas os pés estavam à deriva, a única coisa que possuía lúcida perto de mim era ele, com a calma de avó ao ninar um neto, com a calma de um neto ao dormir no berço aquecido. Cada segundo uma temporada rumo a praia. Ao tentar, num doloroso instante, flutuar sobre a imensidão que me carregava, perco o rumo e me vejo voltando para o horizonte azul do qual fugia, fui arrastado por ele, que por sua vez possuía mais forca de vontade e fé do que forca e fôlego, alias era o único que possuía algum fôlego para qualquer coisa. Ao pressentir uma onda sinto um empurrão contra meu ombro, rumo a costa mas ainda estou muito longe de colocar os pés na areia, ele, em pe do meu lado diz que sente a terra sob os pés e eu que nem pés sinto prendo o choro e tento focar o horizonte, outro empurrão e mais uma onda quebra em minhas costas, enfim, e graças a Deus, o mar me cospe com raiva para a praia e acerto o chão com meus pés, caminho feito soldado para longe do mar, olho para o chão e a água volta rapidamente, percebo que mais dois minutos podem ser cruciais entre minha chegada a praia e minha volta para o oceano. Peco ajuda a uma pessoa, em vão, outra, em vão, não adiantava, era como se Deus dissesse em toda sua meninice “Hoje você vai aprender algo e só ele vai poder ajudar”. Chego a areia e sinto meu peito bater no mesmo ritmo das ondas que queriam me devorar, engolindo meu corpo sem mastigar. Olho para cima e as gaivotas não estão mais lá, acredito que tenha fantasiado por medo, mas não, apenas se afastaram. Um corpo jogado na areia, eu era isso naquele momento, apenas um monte de carne e ossos, sal e água, caída como folha na praia branca, sentia-me pequeno, menor que um grão da areia que me servia de cama. Um movimento com o olho me revela que ele esta ali, logo ali do lado. Percebo que ele não queria perder por um minuto minhas reações e mesmo sem muita pratica com casos como o meu senti uma habilidade calma para com o assunto, isso me trouxe paz, tudo que precisava no momento. Uns cinco minutos se passaram, vegetava, inalava maresia e transpirava pavor, ele ergue a mão com um crucifixo e me entrega dizendo que aquilo não deveria ter saído do meu peito, percebo que sua fé o empurrou rumo a mim em meio as ondas, meio a correnteza que tanto brincou comigo, que dançou comigo, que mexeu com meu corpo como alguém que se diverte. Mas ele estava certo, não deveria ter tirado a cruz do peito, não deveria ter sido tão insolente, deveria ter pedido permissão para entrar no mar, deveria ter ficado na areia, sentido a maresia de longe, esperando o momento para entrar no mar, esperando o momento certo, devia ter ficado na areia.



Ao amigo Cassiano Iop, por me salvar a vida no dia 28/04/2008 no mar de Copacabana, após a ressaca de uma noite violenta.

Wesley Faria.


quem sabe

Quem sabe um dia um sabiá, assim por acaso e quase sem querer, enquanto passeia pelo molhado descubra algo mais que a primavera. Quem sabe um dia num solar amarelado ou num poente meio sem graça os céus descubram mais que a própria luz. Quem sabe a noite se revele em breu e em cada negrume sintamos um perfume de flor.Quem sabe nesse dia, meio sonho meio real nosso amor se reflita nas estrelas e nos mostre um caminho iluminado em fagulhas bem a frente, percorramos amor meu, percorramos.

Amigo

sinto num passar de anos o sussurro da idade, os ombros caídos como âncoras , o peito cheio e carregado, Um vento me sopra a fronte, sinto uma sutil tempestade, não me queixo como criança pela falta de um amigo, pela falta de amor, pela falta de sorRisos. A que me lembrança me queima as veias, a que digo com mais certeza não é ter um prato a mais, e sim um lugar vazio a mesa.

Oração aos Amigos


Amigos meus, que os anos arrancados de vossas vidas sejam devolvidos em forma de paixões e não só na paixão carnal que consome o mundo, deturpa com suor o corpo que vela pelo amor de verdade, que espera a volta da profundeza amargurada do se fazer amar. Que sejam como a pátria de Vinícius de Moraes, assim como se não fosse pátria.

Que os anos passem devagar, que passem como íntima reforma e vontade de chorar.

Que descubram em cada gota de orvalho um poema que aguarda para ser amparado. Que sorriam amigos meus, assim como eu sorri na vida. 
Que sorriam ao lembrar da primeira canção de ninar que cantaram para suas filhas e filhos, primeiros sorrisos, primeiras noites sem dormir. Que tenham filhos, que beijem seus olhos e descubram que os filhos são extensões de nós mesmos. Que os assistam mudarem de ares, cores, cabelos e sons, que achem isso lindo, que vejam como o tempo brinca com seus cabelos e os moldam a favor da idade.

Amigos meus que alvejam a mocidade tão de leve, aprofundem-se na lama do real e apavorem-se ao descobrir que o bem maior do mundo é se fazer feliz. Vejam as cidades, e quando lá estiverem, percebam como elas iluminam em seus lábaros estrelados e apagam sob a luz do sol.

Andem onde houver espaço, conheçam o Rio, acima de tudo, conheçam o Rio, o Rio pela 
manhã. Falem sobre o que quiserem. Falem, não vos emudeçam. Sintam nostalgia, aquela gostosa lembrança que nos emociona e nos fazem ter vontade de tocá-la. Lembrem-se de que quando estavam a contemplar o poente diziam que seu tempo iria chegar, pois bem, ele chegou!


Evoluam amigos, evoluam.

Cheguem a algum lugar, a fronteiras, a segredos, e sejam seus próprios guias amigos. Descubram, descubram sem melancolia que a vida é um emaranhado de nós, ora firmes ora desleixados e acima de tudo, partam sem medo de voltar, sem remorsos, sem o pavor de cruzar solidões, de viver ao léu. Percebam que a vida não nos arranca os anos, apenas nos ensina que para viver não se pede nada além de se dar por completo. Sejam pomares de paixões, sonetos humildes como canto de mulher que, de tanta graça, nos dá a leveza de sofrer como bobos, sob as muitas luas das esquinas, de sentir o vento no peito e dizer: Eu vivi, eu cruzei caminhos, chorei, errei, mas como os dias, nunca deixei de renascer a cada amanhecer.



Torto e roto, eu vivi. Vivam amigos, descubram o que são e amplo emaranhado de sim e não, de dor e paixão. Esbravejem em alto e bom som, para que até mesmo você possa entender, Esse sou eu! cara a cara com a vida, com os sabores!

Enfim amigos meus, morram em paz, se orgulhem de terem percorrido seu caminho e que a cada milímetro do chão tenha uma marca de seu suor. Sejam amigos de vossos amigos, de seus pais, amem seus pais, abracem seus pais, abracem como quem diz adeus, pois nunca se tem certeza da hora do fim.

Sejam meus amigos, pois não suportaria ancorar-me no nada sem porto, amem-se e amem o mundo, assim vivam em paz e morram com alegria.



De repente o sol, de repente a lua os reencontrarão a marcar seus passos sob um pedacinho do céu.
E quando se forem de vez, tornando-se poemas livres e leves, lembrem-se de terem deixado uma pedaço de vocês em cada canto, assim será mais fácil para os que ficam, sejam como forem, santos ou demônios pelo amor de Deus, sejam amigos meus.