domingo, 4 de dezembro de 2011

Almas Secas.
W.Faria

Aqui tinha um rio,
Aqui tinha um rio,
Não! eu não estou louco,
Aqui tinha um rio.
Aquieta meu coração minha mãe,
Minha alma enevoada, avisa ao dono de lá que por aqui passava um rio,
Aqui, onde agora é seco,
Onde agora é morto,
Onde agora é torto,
Onde tem pó e osso de boi,
Daqui a água se foi,
Aqui onde piso, outrora nadava.
Aqui tinha um rio, eu não estou louco, não estou louco,
Sei que tinha e agora seca tem,
Sou herdeiro de um curral de almas,
Que se perdem afogadas num rio fantasma,
Almas secas minha mãe,
Almas secas meu pai,
Molha com teu olhar chuvoso,
Teu bocejo de neblina,
Teu arroto de trovão.
Aqui, bem aqui, por onde passa a procissão,
Passava o rio cheiroso,
Que rasgava o bucho do chão,
Lavava criança, gado, velho e moço,
Dava de comer ao sertão,
Agora, do pó nem barro se ajeita,
É uma terra estreita,
Que migra magra e espreita,
Feito o abutre que espera paciente,
O fim que chega latente,
Almas Secas castigadas, que ruminam sonhos bons,
Almas Secas fatigadas, que esqueceram oque é sorrir,
Tem pena delas minha mãe, tem pena delas meu pai,
Tem pena delas, essas almas que se vão amontoando sobre a terra vermelha do chão,
Almas Secas que se vão, pra o outro lado de bucho vazio,
Chegam aos montes sussurrando,
Que por alí passava um rio.

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