quinta-feira, 22 de dezembro de 2011



Arte Noturna
Wesley Faria



A tela me chama, eu respondo,
A imagem me pede para que a pinte, eu a atendo,
Vou, sem pestanejar, sem saber ao certo o que ela quer me contar,
Vou, pinceis e mente apostos, vou, simples e presteiro me vou,
Me entrego à ela, me apaixono, me encanto, a violo e ela a mim.

A tela não mais é prancha de trabalho, é paixão e como toda paixão é atalho,
É quem sempre amei e finalmente me retornou uma ligação,
É o sorriso de minha mãe que me cantarola uma canção,
É minha filha e é meu irmão,
A tela é espaço, imensidão,
No qual me encontro sem precisar me perder,
Me perco, sem precisar me encontrar,
Vai ver que eu nunca me achei,
Vai ver que foi ela quem me achou,
E com suas mãos suaves e gentis,
Me fez um gesto sutil como quem diz:
“vem”
E eu fui,
Aqui estou, nu, diante do mundo,
Nu, paralisado e mudo,
Com as cores de mim,
Trajado de ti,
Antes de ti, um cheio do nulo na ilusão do nada,
Depois, um nulo cheio de nada ao redor de nós,
Agora, todo minuto é um minuto a sós.

Quero Flores.
W.Faria 

Das flores o polen eterno, 
Tão denso quanto a poeira do mar.
Nas mãos, as estrelas que apanho enquanto descanso no ar.
Um dia acordo sorrindo, sem saber bem o motivo,
Não sei se na noite me aguarda ou da tarde serei seu cativo,
Porém deixo claro que agora não mais o tempo me basta,
Somente os versos revelam oque o meu sorriso disfarça.
Preciso andar rumo ao sonho,
Meu antigo companheiro,
Quem sempre me salvou da força do temido nevoeiro.
Preciso o reencontrar,
Nele me enveredar,
E com o doce mel de seus lábios,
Novamente me embebedar.







para o pequeno sorriso que vejo todas as tardes.

sábado, 17 de dezembro de 2011

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O Encontro do poeta com o passado
W.Faria

Num dia de forte chuva,
E de neblina cinzenta,
senti uma brisa turva,
me dizer “vem meu filho, entra”
e movi meus pensamentos pra um monte que ali ficava,
“é um troço estranho e sujo” sempre minha mãe falava,
Mas mesmo teimoso e de intruso,
fui ver do que se tratava.

Cheguei montado no vento,
Que forte já me ensinava,
Desde pequeno eu lembro,
da estrada na qual entrava,
O vento me sopra, me move e me leva
Sobre o topo da serra branca,
a montanha de uma légua,
Como era conhecido aquele morro sem trégua.

Lá em cima eu pude ver uma cena assustadora,
Como se ela tivesse chegado ali de vassoura,
Uma velha remoída, carcomida pelo tempo,
Ficava ali me esperando, feito arbusto no relento,
E eu nem olhar conseguia, a velha me assustava,
Me fazendo covardia, com aquele olhar embotado.

Eu até me fiz de valente e abri um sorriso sem dente,
Que é pra ela não ficar encantada,
Vai que de repente a velha fica cismada de me beijar sorridente.

Mas olhando pra aquela velha, com roupa tão castigada
Eu vi uma semelhança com uma cena por mim lembrada,
Os olhares feito navalha que arrancam pedaços da minha pele,
Os cabelos envoltos ao nada, que mosca nenhuma repele
Com fios grisalhos e compridos, que faz com que a cena congele.
As unhas sujas como jagunço da terra,
E a pele tinha rugas feito o solo do sertão,
Olhos negros fundos, volteados, já cansados do verão
Trapos serviam de roupa, pedaços de um passado bom.

O zigue e zague da trovoada, que rasga e risca o céu,
Zoava como queimada na palha de fazer chapéu,
A luz que iluminava o alto da serra da velha
Num lampejo me fez rever a mim mesmo num retrato
Segurado por ela em moldura de madeira,
Foi quando entendi que a velha, ali parada a beira
Era algum tipo de fantasma que expressava meu passado
Vi que não era quem nota, mas era notado.

Percebi que cada passo era um passo dado,
Não cabe mais ser condenado,
Vi que a velha me sorria e não queria sorriso dado,
Vi que as unhas não me cortavam,
Como tento cortar de mim o passado que não é bom,
Vi que ela me segurava e não me modificava,
Por mais que eu fosse diferente na fotografia
Ela apenas segurava, sustentava, nem tremia
Sou eu quem tremo frente ao passado,
Então a velha descabelada
Era o passado que ali estava.
Que aqui está, me observando sem avaliar,
Me avaliando sem observar.

O passado é uma velha que te espia de cima de uma serra,
Velha, molhada e fria.
Que a tempos ninguém via,
Mas é a mais pura poesia,
Feita do ontem, do medo, do agora,
Do respeito pelo outro, mesmo que o outro não esteja aqui agora.

O passado é uma cesta de maçãs podres,
Levada pelo vento e espalhada pela vida,
O vento quente que arranca o telhado,
Nos mostra as maçãs caídas do outro lado
Maçãs as quais não mais via.
O passado são os dois segundos de agora,
O futuro é o tempo que demora para você voltar de lá,
Então o futuro é agora, digo sem me preocupar.
E a velha, que tanto medo me dá,
Ora veja, vou ter que me conformar,
Porque onde eu for ela irá, onde ela for, vou estar lá.
O candeeiro não vai se apagar, a catingueira não vai se queimar,
O passado é a saudade tatuada em nosso coração,
Dizendo que é pra lá que nossos passos vão,
E eu, que sempre fui meio avoado,
Finalmente pude entender,
Que pra viver assim rimado,
Certas coisas tem que ter,
Não ter medo do passado,
De viver ou de morrer,
Só se for viver parado
Ou vendo o sol descer,
Aí inventei uma frase,
Que nunca mais vou esquecer
É assim:
SIGA O SEU SORRISO, QUE O RESTO SEGUE VOCÊ.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Tropa do Sarau Reunida.


Giovana Damaceno

Regina Vilarinhos

Cristina

Wesley Faria

Tropa do Sarau
Wesley Faria


Mudança.
W.Faria

Quanto ao sol, não quero fogo,
quanto ao fogo, não quero a brasa,
quanto a brasa não quero o calor.
Quero num dia branco, a pureza da neblina
quero na neblina, enevoar os sonhos bons,
quero em um sonho, a chave para casa,
quero nessa casa me embrenhar na procissão,
Quero uma MUDANÇA inteira só para mim,
com carro de boi rangendo, e roupas cheirando a alecrim.
quero mover meu corpo sem tocar no sonho,
quero mover meu sonho sem tocar em meu corpo.
quero, por mais que esteja morto, endireitar meu caminho torto,
endireitar meu caminhar,
caminhar sempre avante, sem saber que a frente também estão os passos de antes.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011



Poema antiquíssimo. Quando eu falava de amor.

Mente-amabilis.
W.Faria

Quanto tenho-te em mente,
Me encaixo no formato do teu abraço,
Refaço o cada gesto, cada passo,
Necessários para ver-te.

Quando tenho-te em mente,
não me passam nevoeiros,
Não me consomem tormentas,
não me fazem nexo as lógicas,
não me enrubecem as vergonhas,
quiçá vergonha sinto.

Quando tenho-te em mente,
não me seguem negros pensares,
afastam-se outonos nublados,
o mundo inteiro é um pequeno recinto.

Quando tenho-te em mente,
aproximam-se pássaros multicores
não me enxergo perdida,
nem me enxergo sem vida,
pois tu és a vida em mim,
amor de sol, amor sem fim.

Quanto tenho-te em mente,
Doce pecado da minha candura,
adormeço em teu colo delicado,
No meu tempo, que nem o tempo não calcula

Quando tenho-te em mente,
a terra cheira a jasmim,
as flores se vestem de ti
e os aromas se vestem de mim.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011


Texto e Narração de 
Wesley Faria

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011


Lentos
Wesley Faria

O peito rumina lembranças de ontem,
o ontem se faz da lembrança do toque,
o toque refaz o acorde perfeito.

Tua face marcada no lençol do meu leito,
O calor do teu corpo me aquece quando não está aqui,
tua boca me morde quando penso em ti.

Sou teu sonho que vara noite a cortar tua paz,
sou a gota de orvalho que o vento da noite traz.
sou a fera que espreita com seu bote voraz.

E é tão simples pensar em nós,
tão fácil ficar a sós com estes pensamentos,
é como se o mundo todo ficasse imóvel e nós, lentos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011



Passarinho_experimentações wfaria

Wesley Faria e sua Poesia
Wesley Faria e sua Poesia

Tudo é para sempre.
W.Faria


foi bem melhor, dizer
que o pior, passou
por nós dois

não sei porque, doeu
mas sei que não, ficou aqui.

Agora a tempestade já acabou,
o rio se refez diante do mar,
e a história não vai terminar outra vez
com lágrimas tristes e olhar pro chão,
passos tão lentos na contramão,

desta vez tudo é pra sempre

Cena noturna
W.Faria

Risca de giz no céu de anis,
Risca de giz na noite negra,
Uma pausa, um brilho, uma estrela.
Dentro da estrela um ninho de sonhos nebulosos,
Dentro de cada sonho um ninho de angústias sagradas,
Que rasgam o céu e sangram melodias pelo vão de suas palavras.
Choro declamado, anjos de cordel, chapéus de palha que giram,
Pairam no oco do tempo.
Oscilando em cores pelas matas,
Rodopiam e emudecem ribeirinhos que se olham assombrados,
Frente ao disco enevoado e seus filhos, panças-cheias fatigados, vermífugos cantarolando canções de roda, se embrenham mata a dentro em busca de redenção.
Logo a senhora elegante trajada de negro cintilante se retira do salão
Abre mão de sua paz para um amigo que ali se faz,
Ele vem, rasga a carte, seca a lágrima e cada gota de água do organismo,
Talha a vara, varre o pó, reorganiza o povoado,
Colocando cada um em sua casa,
Finaliza assuntos, faz o menino bebericar na fonte de um açude quase torpe.
O gado para, o tempo para, o dia para, o homem para, só ele continua,
Ponta a outra, egoísta, frio e solitário, expurgando cada ser vivente,
Dando e tirando a vida,
Ele vai, até tocar o chão,
É quando devolve a senhora de negro ao salão,
Que proclama independência noturna pelas terras e pelas camas,
Traz o sonho para o lar,
Ela sim, aquieta o berço,
Ela sim é quem faz ninar.

"de dia no sertão o diabo dança, a noite o diabo corre."

domingo, 4 de dezembro de 2011

Almas Secas.
W.Faria

Aqui tinha um rio,
Aqui tinha um rio,
Não! eu não estou louco,
Aqui tinha um rio.
Aquieta meu coração minha mãe,
Minha alma enevoada, avisa ao dono de lá que por aqui passava um rio,
Aqui, onde agora é seco,
Onde agora é morto,
Onde agora é torto,
Onde tem pó e osso de boi,
Daqui a água se foi,
Aqui onde piso, outrora nadava.
Aqui tinha um rio, eu não estou louco, não estou louco,
Sei que tinha e agora seca tem,
Sou herdeiro de um curral de almas,
Que se perdem afogadas num rio fantasma,
Almas secas minha mãe,
Almas secas meu pai,
Molha com teu olhar chuvoso,
Teu bocejo de neblina,
Teu arroto de trovão.
Aqui, bem aqui, por onde passa a procissão,
Passava o rio cheiroso,
Que rasgava o bucho do chão,
Lavava criança, gado, velho e moço,
Dava de comer ao sertão,
Agora, do pó nem barro se ajeita,
É uma terra estreita,
Que migra magra e espreita,
Feito o abutre que espera paciente,
O fim que chega latente,
Almas Secas castigadas, que ruminam sonhos bons,
Almas Secas fatigadas, que esqueceram oque é sorrir,
Tem pena delas minha mãe, tem pena delas meu pai,
Tem pena delas, essas almas que se vão amontoando sobre a terra vermelha do chão,
Almas Secas que se vão, pra o outro lado de bucho vazio,
Chegam aos montes sussurrando,
Que por alí passava um rio.

Seu eu-passado.
W.Faria
Estou aqui para dizer do ontem, não do amanhã, este não me interessa não. Não quero falar do futuro, não existe futuro sem atos, o futuro é daqui a dois segundos, não é tátil, não é ágil, não existe. Vim trazer sua falha, sua navalha de cortar cetim, o pano que recai sobre a noite e que recobre seus sonhos, sonhos densos, suspensos no ar. Vim lembrar de teu passo torto, teu homem morto, o teu penar. Sou eu que em dia de glória t arranco o suspiro da vitória e te faço chorar, sou seu mais sincero 'eu' sou seu ontem, seu feliz parceiro que agoniza na mesa de cirurgia, esperando um transplante de poesia para quem sabe caminhar, sou você, que deixa a vida passar.