quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Ao mundo de dentro

Ao mundo de dentro
W.Faria

Abra a janela do peito,
Grite para o mundo de dentro,
Que o de fora não pode ser mais,
E quem guia o barco é seu vento.

Diz ao mundo de fora,
Que seu tempo é agora,
E se não tiver mais vontade,
Seu tempo é de quando tiver,
Grita que seu dia tem cheiro de tarde,
Sua noite terá o que vier,
Peça ao mundo que vá,
Pois o sonho não tem marcha ré.

Abra a janela do peito,
Grite para o mundo que respeito,
Não é só quando estamos no leito,
É esperar que seu tempo apareça,
É fazer de você seu retrato,
Quando sorria de ponta cabeça,
Em meio a agulhas e soro,
Quando sentia o gosto do ar,
Ao nascer simulando seu choro.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Quero um blues


Quero um blues
Wesley Faria.

Quero um blues que diga que o céu ainda é blue,
Que quem come o bicho cru,
É quem vive de peito nú.

Quero um blues que diga que fadiga é mesmo besta,
Que quem tem a chama acesa, nunca chora só na mesa,
Quero um blues que diga que a alma é morena,
Não é loura ou pequena, que não cabe nem tristeza,
Que só cabe a gentileza de quem sabe se cantar.
Quero um blues que seja sincero,
Quero um blues meio bolero,
que toque quem precisa se tocar.

.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Vilarejo das Andorinhas


Vilarejo das Andorinhas
Wesley Faria


Pra quem gosta de um bom historiado aqui vai um bem contado,
Tem de tudo que se pode imaginar, tem memorias recém chegadas de
algum lugar, tem o cheiro de café no bule a passar, tem a renda do vestido
que se balança no ar, tem até moça praieira num lugarejo bem pequeno beira mar.

A história que você vai ler é um pouco inventada,
um pouco colorida, um pouco verdadeira,
Mas aquilo que inventaram não se podia inventar,
sem ter algo que já existia pra poder se utilizar.
Logo, todo invento tem verdade em seu intento.

Pois bem, vilarejo que se preze tem que ter uma igreja,
Uma praça bem formosa, moças lindas bem vistosas,
com vestidos de fulô, tem que ter velhinhas lentas,
esperando nas janelas, tem que ter também doutor,
que pra dar bom dia pra elas.

Nesse vilarejo tinha, muita rosa, muita flor,
Muita moça, muito moço, tinha até o tal doutor,
Que andava meio fraque, espiando pelos cantos,
Um que estava pelos prantos que até parecia derreter,
Era tanta água salgada, que a queijaria se perdia
sem saber que logo ali havia uma fábrica de salmora,
Logo ali, nos olhos de um matuto, que só falava em soluço,
E de tanto balbucear, esqueceu sua lingua natal,
Soluçava um choro frouxo, atrapalhava a missa e o cortejo
No salão paroquial por conta de um beijo que sua amada lhe negou,
E disse "não leve a mal, é que achei um outro rapaz".

O pobrezinho chorava, coçava e chorava mais,
Dava pena de ver o moço, passando pelas janelas,
As velhinhas nem davam trela, umas  não viam ninguém.
Outras já nem ouviam tão bem, quando o moço passava aos prantos,
As moças corriam tanto que o moço ficava só,
Mas um sabido doutor, que pra rimar, chamei de Nicanor,
O chamou e perguntou:

- Rapaz formoso que chora ao vento, à quem dedica este lamento?

E o rapaz molhado com sua salmora soluçou ao bom doutor,

- Eu SNIFF, choro, SNIFF, por conta, SNIFF, de um amor

O doutor em sua sapiencia, explanou ao jovem molhadelo:

- Meu nobre jovem molhado, se perceber sou descasado,
deveras amargurado, porém não se pode retroceder,
vejo que passas todos os dias sem querer ao menos viver,
Pense bem nos seus momentos, pense e lembre do que passou,
de certo se lhe negaram o beijo, era porque não havia amor,
se amor outrora houvesse não seria extirpado, esse beijo que
agora padece. Erga os olhos e veja os pássaros, vê ali?
Um casal de andorinhas, bem ali na sacadinha, olha como são lindinhas,
Viu as asas tão branquinhas, salpicadas com manchinhas?
são tão belas e parceiras, sempre voam a tardinha.

Mas perceba que são parceiras, são amigas verdadeiras,
porém não precisam de beijos, de abraços ou festeijos,
São o que são e pronto, não precisam dizer ao mundo,
não precisam velar defunto só para dizer "estamos juntos"

Então perceba e pode se enxugar, o seu amor verdadeiro está
Dentro do teu coração, você precisa é se dar a mão e parar
de negar beijo pra quem espera em solidão,
Entenda que quando uma lágrima cai,
ela lhe tapa a visão.


Neste momento o chorão, digo, o homem em desilusão,
Olhou pra cima da casa, bem pertinho da sacada,
Haviam duas andorinhas, com carinhas apaixonadas,
As lágrimas neste momento não representavam quase nada.
Ele agradece ao sábio doutor com uma grande gargalhada,
Vai pra casa bem depressa e fica lá a tarde inteira,
Parecia que a vilazinha iria ser coroada,
com uma notícia iluminada,
Iria sorrir denovo, o homem que só chorava.

As horas se passavam e a tarde ia caindo,
Como as andorinhas se ajuntavam na sacada de uma velhinha,
O jovem ex-chorador apareceu bem na frente de Nicanor
Feito um trem a vapor, em uma mão um lenço branco,
Na outra uma espingarda, ele parou, empunhou o trabuco
e com uma cara de maluco apontou para a sacadinha,
Uma velhinha gritou

"seu mooooço, faça isso nããão"

E ele respondeu sorrindo,

- Agora aprendi a lição, quando uma andorinha ama, ela não precisa mostrar,
Mas fica tudo ai com cara de besta, sorrindo pra quem quer chorar,
Ficam aí bancando as sábias, enganaram até Nicanor, pobrezinho daquele doutor, aperreado das idéia.
Eu vou é acabar com tudo, andorinha, florzinha e sacada,
Que é pra eu chorar o quanto quiser, com saudades da minha amada,
Pois lição de amor não existe, não se pode ser explicada,
Pois só é lição pra quem vive, quem está de fora não entende nada.


Ele pegou a espingarda e apontou pra o céu, disparou tres vezes,
até que as andorinhas voaram depressa dali,
Nunca mais foram vistas, existem igual ao saci,
que a gente sabe que existe, mas não encontra jamais,
Quem sabe as andorinhas estão na sacada de outros quintais.


Bom, a história acaba assim, afinal fui eu quem a escrevi,
Então se o sono aperreia, coloco um ponto e vou dormir,
Mas acho que ainda dá tempo de explicar o que o moço fez,

Não se pode dizer ao outro que sua dor é pequena demais,
Não se pode encontrar exemplos pra explicar o que a vida faz,
A dor de amor é um livro de autoajuda, mas como todo livro de autoajuda,
Só faz sentido pra quem lê. Assim é a dor do amor, que é feita pra ensinar, que dá pesos pra quem quer voar, só faz sentido pra quem quer sentir e só quem a sentiu um dia meu amigo, é que pode ensinar.


Esse vilarejo existe, essas andorinhas também,
Acho que inventei o resto, espero que não irrite ninguém.

sábado, 13 de outubro de 2012

Nascemos prontos

Nascemos prontos.
Wesley Faria 

Nascemos prontos, o mundo é que se forma ao nosso redor. É como se tudo tomasse forma ou se realocasse em seu verdadeiro lugar, as meias se escondem debaixo da cama, os botões se recusam a fechar as camisas 
sociais já amareladas pelo tempo e pelas muitas idas à maquina de lavar. Os olhos finalmente secam suas lágrimas e as mãos finalmente lapidam aquilo que sonham as mentes.

A estrada se tornou longa quando dei o primeiro passo, mas depois de colocada a primeira peça não se pode voltar atrás, os passos que seguiram surgiram feito gotas em inicio de tempestade, molham primeiro o vidro da janela, escorrem até o jardim logo abaixo do vidro e esta mesma chuva, que tanto assusta, se transforma em vida para flores e para a terra.

A vida se encaminha de colocar cada coisa em seu lugar, cada sapato no pé correto e cada pé no caminho certo, mas as vezes amigo, as vezes demora pra se encontrar a direção, enquanto isso não acontece é melhor se prevenir, ter certeza de que está cantando no tom certo, mas antes de ter esta certeza é cabível o erro, é cabível o medo, aliás, o medo sempre é cabível em qualquer situação, é graças ao medo que aprendemos a nos defender.

Quando o primeiro brinquedo caiu do berço foi o medo quem nos impediu de nos jogarmos no chão e se nos jogamos foi o medo quem nos mostrou que cair faz parte da vida, mas dói amigo e dói muito.

As coisas se completam, devagar a estrada desenha o horizonte e não o contrário, não é o horizonte quem desenha a paisagem, é a paisagem quem cria um horizonte, o horizonte nasce da mistura do que temos com oque queremos ver.

O cantarolar da mãe é quem ensina ao filho que a paz está dentro de nós, não sendo preciso gritar por ela, correr por ela, matar por ela, é preciso apenas viver por ela, a paz interior é o hino que toca baixinho quando o corpo perece.

Não existe moldura na vida, a vida é a sua própria moldura, e nós? Nós somos a tinta do quadro. Essa tinta tem o tom que desejamos, aliás, tem o tom que decidimos que ela terá, tem as peças que damos à ela, as manhãs constroem as paisagens de acordo com nossos passos, sendo nossa a responsabilidade de entregar a peça certa.

Somos nós quem giramos a terra e não o contrário. Experimente o chão, ele é mais próximo que você poderá chegar da força, absorve cada lágrimas que cai e ainda assim nos sustenta. O mundo é pequeno demais para quem tem o sol dentro do peito, deixe o sol iluminar quem passa e lembre-se de que cada luz que emite é uma chama que o consome e em breve toda luz acaba. É hora de caminhar em direção a nós e não ao horizonte, afinal o horizonte é construído a cada passo e nós,
Nós nascemos prontos, o mundo é que se forma ao nosso redor.

A chama que consome é a luz que vem de dentro,no final, dá no mesmo, tudo é vida.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Quando nascem as marés


Quando nascem as marés
Wesley Faria

I - Frente ao mar a morena chorou.

Nas dobras do sorriso existem mares de saudade,
Cujas ondas tecem leves ondas que se quebram no vazio do agora,
Ondas bordadas com esbranquiçadas orações, rosários ponteados aos prantos, são marés derradeiras, navegadas por longas naus que se iluminam pelas velas dos olhares que não se apagam frente ao imenso mar.
"Ele vem, me prometeu arpejos solfejados aos meus ouvidos,
Prometeu-me arrancar as âncoras do peito e poupar-me as pegadas e os castelos arenosos frente ao desejo de encarar a embarcação de sua saudade e combatê-la com o cais do meu corpo".


II - As velas de um barco tardio.

Ensinando o vento o caminho,
A embarcação cortava o negro espelho de céu,
Mirava o porto e seguia seu curso nostálgico,
De proa a popa entalhes de maresia.
O balançar do casco desenhava cinturas na água,
Tingia o mar com as cores do cabelo dela e cantava seu som assoviado no vai e vem da gélida água noturna.
Já era possível ver o vento que cintilava seu brilho de microgrãos de areia tocar os cabelos dela e lançarem o perfume ao ar, que pela piedade divina da saudade carregava até as velas da casa marinha que encurtava a distância e aumentava o palpitar cardíaco da flor na beira dágua.

III - O choro de Oxum

O casco se apruma em meio as madeiras mal pregadas do velho porto, os passos tornam-se flechas rumo a pequena escada feita de tábuas semi apodrecidas pelos suspiros das águas.
A luz no peito dela se acende mais que o sol de fim de tarde que se jogou no mar, olhares infantis e um leve suor na face de candeia.
As velas caem, aportam-se todos os abraços pertencentes a suas senhoras, que por sua vez conduzem os acordes das canções lavadas a bebidas até suas casas.
Um som seco de passo faz a velha ponte ranger e a notícia lhe toma o peito como o fogo que consome a palha seca, o mar se torna pequeno frente a tanta água que brota dos olhos dela, que de iluminados se tornam tochas que se apagam com as dores, pouco a pouco.


IV - Flores ao mar

O sol beirava o horizonte quando a areia consumiu de vez suas mãos espalmadas na praia. A lama produzida pela dor do amor perdido nas águas turvas de um mar bravio foram as últimas gotas produzidas por aqueles olhos negros, olhos cor de mar, olhos cor de saudade. Seus passos tomaram rumos desconhecidos e seus cabelos uniram-se ao suor do corpo frente ao oceano.
Lentamente seus pés cortaram a primeira onda da manhã, cruzou a primeira pedra submersa, o corpo aparentando sua semi-crucificação tornou-se mais leve que sua alma e deixou-se levar pela cor do dia, fez-se tarde e por fim criou raizes feito algas em chão de onda e seus olhos que miravam as primeiras estrelas com suas luzes brancoazuladas agora miravam as estrelas d'água com seus tons róseojuvenis.
Seu suspiro submerso é agora o moinho para os barcos que e galés, pois antes do pranto dela não existiam as marés.


V - Males e marés

São demais as dores desta vida,
E quando a dor é quem ensina não existe quem não aprenda,
A dor da morena que clama agora é a valsa cantada que ensina que cada açoite é uma onda que bate, é uma lestada da noite,
E a noite nunca se refaz quando um amor acaba,
São os olhos que decidem as profundezas, as densidades e os pés,
e cada um rema seus medos, seus males e suas marés.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Se eu pudesse


Se eu pudesse
W.Faria

Se eu pudesse não gingava os cabelos,
Não dourava os pelos ao sol,
Não sorria nua pra ti,
Não seria mulher que se desnuda a mentir.

Se eu pudesse, não ouvia-te os versos,
Não pintava universos,
Escapava de ti,
Deixava-lhe esperar,
E seria mulher do tempo,
Enquanto o tempo durar.

Mas não posso, pois arrancou-me a alma,
Como alquimistas sábios,
Naquela noite que lhe dei de presente meus lábios.

Pequena oração

Pequena Oração
W.Faria

Meu deus, não me permita que eu diga "eu pertenço a este lugar",
Não me deixe nunca dizê-lo, pois pertenço somente a poesia,
Quero conservar o olhar semi-estrangeiro do deslumbramento pela vida,
Em qualquer parte do mundo,
Por isso meu pai, não me deixe criar rais, nem por um segundo.

Por quem teu peito arde

Por quem teu peito arde
Wesley Faria 

Quero ter o apelo de barco que volta,
Ter a cor do teu casaco quando se vai,
Ser sua guardiã frente a trama,
Fera ao teu lado e uma bailarina na cama.

Ser a dor quando se curva para me beijar,
Quero ter na pele todas as marcas de teus amores,
Ser o peso da vida quando outras lhe desejam a leveza,
Sendo assim, sua, sei que posso ser crua.

Quero ser a praia onde seu barco descansa,
Ser flecha que se lança e no fim da tarde,
A mulher por quem teu peito arde.

Cabeça de Bacia


Lavadeiras sempre me ensinaram a viver em um mundo que se renova, como o rio, a cada segundo. Assim não existe um só momento no qual não olhe para um rio e tente me igualar.

Cabeça de Bacia
W.Faria

Pai, quando não houverem mais mentes fora d'água,
Rogo pelos que sofrem com a vida beira-rio,
Quando não houverem mais credos calcados na moeda,
Rogo paz para aqueles que vivem com a vida enlameada,
Que vivem a vida de erguidas e quedas.

Pai, o mangue que dá vida dá também a cor da lida,
Transforma a reza em cantoria e faz do sonho dor parida,
Pai, leva meu atalho pra bem perto de você
E mostra teu olho no nevoeiro pra que assim eu possa crer.

Peco sei que peco mas aprendemos com você,
Pois teu filho só é filho quando imita oque se lê,
Aprendi a paciência com as mulheres d'água,
Que carregam suas roupas em seus cestos prateados,
Aprendi com seus passos que sapateiam no guizado mouro,
Feito o riso envolto ao choro das mulheres ladainhas,
Das mulheres verdadeiras, com cabeças de bacia,
Com seus filhos ainda no ventre e a voz leve e macia.

Pai, sei que escuta os pesares, sei que lê as cartas breves,
Porém um dia, se quiseres entre e veja oque passou,
Antes da nuvem de mágoa, antes do trovão que a rasgou,
Quando não houverem desculpas para explicar quem vai,
Quando não houverem línguas para dizer que o tempo chegou.

domingo, 15 de julho de 2012

A fila sempre volta

De todas as mulheres as quais amei você foi a que me deixou mais saudade.
Quando nossos pés se calçavam de nós mesmos, se enroscavam entre lençóis e o cheiro do café nos fazia levitar pelo quarto. Nossas juras de amor que varavam a madrugada e ficavam coladas nas nuvens de nosso pai Oxalá, que as lia e só ele sabia que não faziam o menor sentido.
Saudades das tardes na praia, olhando o mar lamber a areia e o sol beijar o mar, osculando de leve o horizonte, que de azul virava laranja e se incendiava lânguido e quase inerte. Algumas pessoas passaram pela minha vida e deixaram cortes, outras deixaram frestas, poucas deixaram lembranças, mas pela porta que você deixou aberta é que passam todas as lembranças enfileiradas, que me desejam bom dia, boa tarde e boa noite, uma a uma, lentamente e eu as cumprimento, uma a uma até que a última passa e  me diz olá novamente, é quando a fila volta e a fila, a fila sempre volta.


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Caminha vai ficar.


Caminha vai ficar.
Wesley Faria

Nem Caminha percebeu
A anedota que o antecedeu,
Sua mãe, moça distinta,
Disse ao pai em voz direta e limpa:

"Ora Vasco, duque de Bragança,
Tenho a santa esperança,
Que nosso filho vai ser,
Ou um bravo aventureiro,
Ou até rei pode ser."

Mas Vasco, o marido fiel,
Pálido, um gentil menestrel,
Disse ao homem que escrevia
Com a rapidez de uma estrela guia:

"ÓH Gajo, eu quero que escrevas bem,
Minha mulher está a ter neném,
E eu é quem vim batizar,
Quero respeito com esse nome,
Por mais que lhe pareca estranho,
Sofá em casa é oque ganho,
Se a caso você falhar."

O escrivão muito sabido,
de pronto se fez de entendido,
E logo ergueu a pena:

"pois me diga meu senhor,
Qual título devo por?"

E Vasco, sorrindo de lado,
Disse meio ressabiado:
"É Pero Vaz de Caminha"

"Com a sua?" o escrivão perguntou!
"Caminha" o duque esquivou.
"Vaz Caminha não é tão sonoro,
O senhor queira me desculpar"

E o Duque disse com o peito estufado:

"Rapaz, um conselho eu vou te dar,
Se tiveres mulher e filho,
É bom aprender a escutar,
Foi Caminha que minha mulher o fez,
Então Caminha vai ficar."

Só é a solidão


Só é a solidão.
W.Faria

Meu peito é feito de água,
De poesia e canção,
De melodia e refrão,
Que no papel deságua

Meu passo ao seu passo conduz,
como orvalho que toca o chão,
Teu silêncio ao meu peito faz jus,
Tal qual a tarde inteira de verão.

E Você vai me perguntar,
Se já está escuro,
Só pra não se levantar,
E ficar misturada em tanta cena
Feito a cor, daquele tema de Van Gogh.

Feito Bicho que se esconde a escuridão,
Feito linha mal traçada na palma da mão,
Tece a noite em seu cabelo,
Teu perfume ao mar naufraga,
Tem o tom do vaga-lume,
Que por teu cabelo vaga.

Só é a solidão,
Só é a solidão,
Só é solidão e mais nada.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Divina Sabotagem


Divina Sabotagem
Wesley Faria

Como pode ser ridículo o velório de quem não envelheceu,
Para o velado que amara o assunto não narrado.
As senhoras chorando sobre um corpo que pereceu,
Imagino a angústia da alma ainda presente,
Como quem é tirado do jogo assim de repente,
Golas molhadas e broches enfeitando as lapelas,
Lágrimas, velas e flores amarelas.

Imagino os passos lentos e o pensamento apressado,
Daqueles que ficam e desejam que anos passem em segundos,
O segundo terço acaba de ser finalizado,
O líder da cerimônia deixa o púlpito aberto para os recados,
Lágrimas, velas e um paletó gelado.

Um padecer tão precoce, um 'ir embora' pra Oxóssi,
Voltar a ser natureza, voltar a ser matemática,
Um existir tão macio, sem espaço para o vazio.
Sustenido suspenso em uma dó bem maior.

Na lista do que não faria, fiz de tudo que só eu queria,
Não desisti de sonhos em minhas andanças,
Pintei os muros com minha poesia,
Ficam alguns versos por terminar,
E alguns passos que outros pés poderão caminhar,

É hora, mesmo que antes, é hora,
Vou por aí, escrever por sobre a nuvem,
Sentar lá em cima e balançar os pés,
Jogar poemas em papel amassado,
Disfarçados de gotas de chuva,
Sobre as sombrinhas e no meio das ruas.
Fumar meu cigarro com o vinho do lado,
Se é que poderei ainda ser assim.
Viver a vida mais nua.

Divina sabotagem,
Que me mostra o tamanho que tenho,
Terei o tamanho que sei,
Se deixei angustia ou desdenho,
Sei que mais memórias deixei,
Cenas sorridentes sem fim,
E por fim oque vão encontrar,
Será uma grande constelação de mim.

Pena invisível


Pena invisível
W.Faria

A pena invisível do poeta
Não precisará de tinta ou de mais espaço,
O espaço é invisível e nunca se preenche,
para a pena do coração de quem chora em leito quente
O poeta é só mais um que grita entre roucos
E experimenta o sentimento antes dos outros.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Nenhuma solidão me tira o vazio de viver. W.Faria

   O olho caça a presa assunta,
   O olho assusta a presa e a caça,
   O olho se assusta sem pressa,
   No final o olho que vagou pela fresta,
   É o único que interessa.
    W.Faria

No mundo existem dois tipos de pessoas, 
as que seguem seus sonhos e as....as....ah, 
as outras não interessam. 
W.Faria 

A luz acabou no último post da humanidade. 
W.Faria

Sentei ao meu lado na mesa, me servi uma bebida, 
brindei comigo e ainda assim me senti sozinho. W.Faria

O passado será o agora quando o futuro 
for daqui a um segundo, vivemos no limbo
W.Faria

Hoje eu não temo a morte, eu temo a sorte. 
W.faria

A fuga está dentro de você, a liberdade também. 
W.Faria

terça-feira, 26 de junho de 2012


Cidadão do Mundo


Cidadão do Mundo
W.Faria

E eu pergunto poque?
Por que tanto mar sobrando
E meu barco não está a navegar?
pq sempre que começo a levitar
Alguém vem me dizendo
"hey, saia já daí, vc não pode voar"
E eu vou descendo sutilmente,
Tocando o chão de novo,
Covalescendo o sonho
E sentindo a brisa se tornar
Lampejo de sonho dentro da mente.

E eu pergunto POR QUE?
Por que  a velha rezadeira não
avisou ao mundo que 
quando o segundo
for o maior tempo que houver
O primeiro ato a se fazer
será se unir ao átomo
E como ele se alinhar
Em uma crescente e luzente
forma de vida.

Mas, devaneios a parte,
Eu pergunto:
"Por que?" 
Por que o pescador,
Quando escuta o canto da sereia
não imagina mais que é a rainha das ondas
A lhe convidar pra dançar sob o luar,
sob as águas encantadas de Yemanjá?
A morena beira-mar ainda está por lá,
ainda caminha faceira mirando os olhos na areia
E espera o apito a chamar.
Nos braços o abraço apertado
que carrega um suspiro dobrado
e que se encaixa em apenas um lugar,
o abraço suado do seu par.

Vai ver que a poesia sumiu,
se petrificou em labaredas industriais,
vai ver que a fumaça tapeou os temporais,
que sem saber onde chover,
acabaram por molhar outros quintais.
De fato a foto do hoje não principia o amanhã,

E a flor ainda ousa despetalar-se
em aromas e versos pela manhã.
Como a flor que se traduz em verso me vou,
fico a sós comigo mesmo e percebo que

existe mais que uma constelação dentro de mim,
mais que mil sóis e mais aroma que mil jasmins.
Olhei para dentro de mim
Percebi aquilo que não via do lado de fora,
tudo que havia perdido, entulhado,
empilhado em caixas empoeiradas
no átrio direito do peito.

Em uma delas, na que estava escrito "Cuidado, Frágil."
notei um brilho diferente, confesso que o brilho quente,
me deixou deveras sorridente
Lá fui eu desbravar minha alma,
durante minha caçada interior.

Rompi florestas de ignorância,
cortei e podei as flores e ervas daninhas,
por fim cheguei a minha caixa de pandora interior.
Com dedos postos de leve e lentas passadas a segurei,
um sorriso desconfiado me mascarou a face.

Na caixa estavam meus sonhos,
com o peso de mais de mil toneladas
Mil toneladas de versos inacabados,
versos os quais decidi completar.

Porém nada é tão simples que não se possa dramatizar,
para completá-los precisava cancelar o contrato
com a grande roda exterior que faz do sonho um rato.
que me fazia correr em busca do sonho do outro,
em busca do sonho do ouro.

Rompi com homens, mulheres e cidades,
criei novos homens, mulheres e cidades dentro de mim,
me tornei senhor do meu próprio sonho e descobri o
rumo que meus passos darão a partir daí, em busca do sorriso.

Cortei os laços do nada,
refiz as pazes comigo e tudo mudou em um segundo,
Decidi deixar de ser ser que vaga para ser cidadão do mundo.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Teu calor meu frio


Teu calor meu frio.
Wesley Faria

Quando o véu rasgar e o vento então se por,
Vou pedir ao tempo, mais um tempo amor,
Quando o teu sorriso, florescer abril,
Mais do que eu preciso, teu calor meu frio,

Quando as ondas são demais
nosso amor é nosso cais,
Meu bem, pra que um porto
se morto vou sem ter razão,
da vida que vivi.

Se um par perfeito é o seu sorriso
Junto ao meu é paraíso e para isso
Que me fiz de bobo pra escutar
você telefonar com a mesma voz de sempre
e me enganar me fiz de são.
Sem ter razão, sem o andor do amor,
sou feito cor sem tinta,
Feito acorde sem instrumento
E nem o vento pode mais me carregar.

Quando o véu se rasgar e o vento então covalecer na brisa
Vou chegando na maré mais cedo sei que vou chegar
Quando o teu sorriso, florescer abril,
Mais do que eu preciso,
Teu calor meu frio.

sábado, 23 de junho de 2012

Para que vuelvas


Para que vuelvas
W.Faria

A lejos de ti, a cerca de mis recuerdos
A lejos de mi, a cerca de mi soledad
Cambio la ciudad, hago canciones
Cambio la velocidad de mis pensamientos

El tiempo me quito tu mirada,
El mundo se giro tan veloz
Los dias e las noches en claro
Escucho siempre siempre a tu voz

Que me diz que luego vuelves
Vuelve como el sol
Colore tu sonrisa
Que toca tu lencol
Que luego vuelves
Que es como la lluvia
Que te envuelves a suspirar
E se vá, E se vá.

A lejos de ti, no tengo nada que hacer
Solo esperar, que vuelvas, que vuelvas.

Enfim bicho.


Enfim bicho.
Espiritualidade e vida,
Por W.Faria

Desde crianças aprendemos que devemos nos diferir dos animais, aprendemos que somos superiores a eles, que raciocinamos e temos o dom de evoluir continuamente. Porém no que está baseada esta análise?
No fato de que podemos nos comunicar com mais clareza ou no fato de termos dominado acidentalmente o fogo? É comum analisarmos uma situação na qual a violência tenha sido predominante e dizermos que os homens se assemelharam aos animais naquele determinado momento, mas analisemos melhor essa afirmação, quando um animal se sente ameaçado por outro do mesmo grupo ele primeiro se impõe de forma teatral, se ergue e brada afim de estabelecer o limite de seu território, como os gorilas fazem, batem no peito indicando que ele é líder daquele bando. Já os cães delimitam seu território pelo cheiro, urinam ao redor do território e pelo cheiro indicam que passaram por ali, logo, quando algum outro cão se aproximar saberá que aquele local pertence a outro animal, respeitará essa delimitação e procurará um novo ambiente para estabelecer seu domínio.
Até mesmo as formigas desenvolvem um trabalho dotado de grande parceria e confiança, afinal cada membro da colônia desempenha um papel crucial para a sobrevivência do grupo. Perdoem-me se estiver enganado quanto esta análise, porém acredito que não há nada de animalesco na maneira de lidar com situações de crise enfrentadas por nós humanos, visto que no reino animal não existe crueldade, tortura ou cárcere privado, não existe abuso infantil nem reféns, não existe tráfico nem milícias. Existem sim os soldados e os governantes que lutam por um bem comum, a proteção da colônia. Já entre nós são raras as ocasiões nas quais os líderes lutam por um bem comum, na maioria das vezes a briga de egos é explícita.
Enquanto o homem resolver suas diferenças levando em consideração o etnocentrismo, a paz se fará cada vez mais distante. É preciso levar em consideração o espaço delimitado pelo outro como seu território, é preciso respeitar o outro como membro da colônia e não como espécie diferente. A paz está dentro de cada de nós e não no outro, querer encontrar no exterior algo interno é no mínimo procurar no lugar errado. Ao compreendermos nós mesmos compreenderemos o outro pois a energia vital de todas as coisas, Deus, está dentro de cada um de nós, logo todos compartilhamos da mesma energia e isso nos faz irmãos. Com isso em mente saberemos que cuidar do outro é cuidar de nós mesmos e dilacerarmo-nos com batalhas por território é mutilar um mesmo corpo, que morre pouco a pouco.
Quando compreendermos isso poderemos lutar pelo bem da colônia e diremos com todo orgulho “Enfim bicho”.


Bastidores
Bastidores

Apresentação do texto:
Eu-menino (Insetos invisíveis)

Paisagem de criança


Minha vida é feita de simplicidade e terra batida, em noite de lua nova, quando a rua estava clara, as meninas e os garotos brincavam até tarde. A rua vermelha, como chamava minha querida rua, era só sorriso, grito de criança e oração.

Lembrando de cenas assim sempre penso nos momentos registrados em minha mente, como quando o pular de corda das meninas com quem minha irmã sempre brincava, era interrompido pelo grito da mãe de uma delas, que a chamava para jantar.

Elástico, pular corda, até mesmo maquiar horripilantemente uma boneca chamada de "Poeminha" eram brincadeiras preciosas.

Assim, com essas cenas em mente me pego revivendo sorrisos e repensando passos...aí, enquanto não transformo a cena em verso ela fica aqui dentro, buzinando e pedindo passagem, então para que não corra o risco de embarreiramento de poesia, lá vão os versos dedicados ao passado.


Paisagem de criança
W.Faria

Duas cordas balançando
Duas mãos girando em par
Duas pernas saltitando
Pé no chão, pé no ar.

Umas tranças se balançam
Um sorriso cai no chão,
Os pés que saltavam descansam
Outros assumem sua posição.

Um grito, um susto,
As cordas no chão
A mãe chama alto,
É o tom da refeição.

Um aceno, passos largos,
Par de pezinhos correndo,
Novos pés nos espaços vagos
Sonhos novos no sereno.

Wesley Declamando no Cine 9 de Abril - Volta Redonda - RJ


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Insetos Invisíveis


Insetos Invisíveis
Wesley Faria

Ás vezes o sol toca a terra, demora muito pra acontecer, demora um dia inteiro e dura só um segundo, mas nesse segundo dá pra se fazer uma infinidade de coisas, os casais encontram nesse segundo uma eternidade para se fazer amar, a eternidade do beijo, os velhinhos, sentados nas varandas encontram o alarme que indica que já é hora de entrar. Minha vó costumava a dizer que quando o sol toca a terra é hora de se rezar uma Ave Maria, eu me lembro que eu ainda era pequenininho quando aprendi a rezar a Ave Maria, e ficava imaginando q era uma ave muito grande, que voava sem parar por cima da gente, protegendo, cuidando daqueles que não podem cuidar de si. Aí ia pra rua brincar com meus amigos, de pé no chão, pulava o muro correndo e me sentia um super herói, vestido com capa de bujão e espada de régua escolar. Eu voava por sobre os peões que giravam sem parar e catava goiaba em um quintal que tinha bem pertinho da minha casa, eu lembro que eu sempre chamava Carlinhos, que era um menino que morava perto desse quintal. Lembro que os olhos de Carlinhos, quando eu chamava pra catar goiaba comigo, nunca me olharam a fronte, ele sempre estava muito ocupado com seus insetos invisíveis, aos quais seguia fielmente, seus olhos pareciam fazer desenhos no ar e eu ficava indignado, como pode um menino preferir brincar com insetos invisíveis ao catar goiaba comigo? Pular o muro, correr descalço e fazer firula com o canto das lavadeiras lá na beira do rio? Mas minha brincadeira sempre acabava, eu sempre me cansava e voltava pra casa com os lábios roxos de frio, e Carlinhos estava lá, sentado, com o mesmo sorriso contido, mais uma vez não entendia como ele poderia ser tão forte ali parado. Demorei pra entender que os olhos de Carlinhos não desenhavam no ar, demorei pra entender que seus sonhos não eram apenas brincar com insetos invisíveis que o seguiam, só mesmo quando perguntei a mãe dele porque ele não podia sair e correr comigo, ela sorriu e me disse “Ele tem o próprio mundo dele meu filho” nesse momento acho que experimentei pela primeira vez a inveja, como podia uma pessoa ter um mundo inteiro dentro dela? Com planetas, cometas, espaçonaves, luas e sóis. Senti uma vontade enorme de sentar ao lado daquele menino, assim, sujo de goiaba e barro seco e tentar aprender como é que eu fazia pra ter um universo só pra mim também, onde eu poderia ser livre, voar, onde Carlinhos me ensinaria a ser o que eu quisesse ser, sonhar com o que quisesse sonhar, até mesmo flutuar por cima das casas e das pessoas, como aquela grande Ave Maria, que minha avó me ensinou a rezar.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Personal-platéia

Personal-platéia
W.Faria

Sou minha própria platéia
Dou o verso e faço a estréia
Tenho o mesmo brilho que o foco amarelo
Sou a ponte que me leva ao meu próprio castelo.

Sou minha própria platéia
Sou meu dia de estréia
Sou a peça, sou o tempo
Sou o poeta no relento

Sou quem ri, sou eu quem chora,
Sou quem dá atenção e quem ignora
Sou sem ser, sem vir, sou o agora
e quando meu show acaba, 
sou quem nunca vou embora.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Casamento


Casamento
W.Faria

União de seres com idéias similares e às vezes nem tanto
União de seres similares com idéias às vezes nem tanto
União de idéias com seres nem tanto similares
União de seres e idéias nem tanto similares
Idéia similar a união de seres nem tanto
Idéia nem tanto similar a união de seres
Idéia nem similar a união de seres
Casamento, que idéia genial.

Navegar no ar.


Navegar no ar.
W.faria

deixe a porta aberta quando for sair
que é pra algum dia alguém poder entrar
pra clarear, clarear o ar

deixe a porta aberta, quando for entrar
pois não sei até quando você vai ficar
pra clarear, clarear o ar, clarear

deixe o olho aberto, quando for dormir
pois não sei ao certo se há alguém aí,
a observar, a observar.

deixa a noite te ninar
deixa o sono te guiar
deixa o sonho te encontrar
a navegar, a navegar no ar.

Enquanto eu viver


Enquanto eu viver.
Wesley Faria

Um dia a gente acorda com a mesma meia furada,
A mesma roupa amassada e logo se pergunta,
Quando é que tudo vai acabar?

O suco de laranja na mesa,
O cheirinho de tempero vindo lá da cozinha,
O barulho dos carros na rua,
O fechar das cortinas brancas
Cortinas que separam nosso santuário do resto do mundo.

O banho de mangueira no quintal,
O espreguiçar na poltrona da varanda,
A luz do sol que toca de leve seu cabelo,
Cada raio de sol entoa uma nova nota,
E tudo isso no final, vira uma sinfonia pessoal.

Aí vem a chuva e lava a poeira do passado,
Cria vida onde antes existia apenas sombras,
A garoa toma conta do chão,
Parece que até as árvores se encolhem com o friozinho,

O dia vai acabando,
E a gente deitado, quietinho,
É quando a pergunta vem,
Será que tudo precisa passar?

Logo a resposta rasga o ar,
E revela que a vida é uma fotografia,
É reza de ave-maria,
É canto de beira-de-pia,
É feita a cada dia,
Sem ter pra que ou porque,
Pois a vida,
A vida é enquanto eu viver.

João lieiro


João lieiro
W.Faria

Na terra de joão ligeiro,
quando a faca riscava a noite
não tinha riso ou açoite,
na lândia do inteiror
-/-

Coronel não quer saber
se o povo tá feliz
ele quer é ver nascer
tudo aquilo que ele diz

coronel não vai vencer
porque o povo vai se unir
e num grito derrareiro
vai fazer ele cair

Injustiça e ingratidão
rasga o buxo do sertão
dá dinheiro a quem quiser
basta ter um companheiro
que trabalhe para o cão

Mas agora que chegou,
forasteiro e feroz
o gatilho mais ligeiro
é que vai falar por nós

não é bala e pedra não
não é serra ou canhão
é o verso mais ligeiro
que brota do coração

joão ligeiro aqui chegou
vai dizer pra qualquer um
que o povo agora é livre
pra somar um com mais um

coronel nem vai saber
oq lhe aconteceu
vendo seu sertão crescer
nas mãos do povo que o escolheu

mas pra isso acontecer
é preciso união
é preciso vaz ativa
pra gritar pelo sertão

joão ligeiro já chegou
com seu verso encantador
vai juntar todos os filhos
pra lutar no interior.

...

Descarga


Descarga
W.Faria

minha cabeça não é descarga
pra vc colocar tanta coisa velha
não é entulho e não tenho barba
branca pra aturar a sua inveja

aquele dia você me explicou
porque você é tão melhor e acreditei
que o seu ego anda tão inflado
é melhor seguir seu rumo no balão de rei

como sou roto e não tenho nada
pra poder lhe oferecer eu já não sou legal
guardo no bolso só alguns trocados
pra tomar um pingado e ler um jornal

eu acho graça do seu riso frouxo
do seu dedo roxo e da sua voz
parece que sempre está com raiva
que sempre se embasa e fala por nós

mas eu te digo que daqui pra frente
vou ser menos gente e mais animal
eu vou rosnar pra quem eu não gosto
e morder o rosto de quem me trata mau.

Não gosto de armas


Não gosto de armas
W.faria

eu não gosto de armas
eu não gosto de poetas
eu não gosto da justiça
eu não gosto do exame de balística

eu contesto o contexto
eu contesto o bom senso
eu contesto o seu berço
eu contesto o bom tempo

eu não quero o mesmo lixo
eu não quero o mesmo bixo
eu não quero o mesmo cais
eu não quero o mesmo nixo

não pertenco a você
não pertenco a ninguém
não pertenco a quem sabe ler
não pertenco ao refém

eu sou faca
eu sou trovão
eu sou ilha na ilusão
eu sou a ave que voa
enquanto o mundo só ressoa
que quem pensa tem a arma
que quem pensa está na proa

Mas eu não gosto de armas
eu não gosto de poetas
eu não gosto de justiça
eu não gosto de exame de balística.

eu sou a bala.

cidadão do mundo


cidadão do mundo
w.faria

Até que o mundo é pequeno
Debaixo dos nossos pés
e a noite passa ser sereno
todo moeda vira réis

até que é fácil o silêncio
quando não tenho o que dizer
eu aprendi que é bem mais difícil
querer mostrar que nunca vou saber

do que há logo ali
debaixo do oceano
do que há logo ali,
no fim do meu engano,
do que há logo ali
seguro feito elo

e eu não sei,
pois oq sei,
me torna rei,
do meu castelo,

por um segundo eu sou herói
sou cidadão do mundo

até a babilônia fui voar
por cima do horizonte meditar
muralhas e castelos construí
muralhas e castelos destrui

protegi você,
não deixei ninguém te encostar
protegi seu eu
que o mais profundo
que eu quero chegar,
melhor que estar logo ali

debaixo do oceano
do que há logo ali,
no fim do meu engano,
do que há logo ali
seguro feito elo

e eu não sei,
pois oq sei,
me torna rei,
do meu castelo,

por um segundo eu sou herói
sou cidadão do mundo

Okê se ganhará


Okê se ganhará
Wesley Faria

Dm7 - A7 - Dm

Você até me disse que não ta nada bem
que eu tento lhe dizer que essa vida é mau
eu chego em casa logo eu ligo aquela tv
se pode tanta sátira no telejornal
de ontem tem o mesmo que o jornal de hoje
em dia não se fazem mais notícias como

Antigamente expandida ta em falta no mercado
Mente expandida está fora do mercado
Da esquina posso ver que já é tarde demais um
dia se passou e você se enganou achando que a
notícia do massacre é normal percebe que sempre
mudam seu canal lacrimal
se sabe onde vão parar
matilha que implantaram
como um lírio do campo é belo

Monte que perde em troco de um castelo
da corrente que não tem que romper

elo da corrente que não tem que romper
elo da corrente que não tem que romper
elo da corrente que não tem que romper

Doa, ele não sabe oq faz de conta,
que não lê os jornais do contra
ele não quer temporais
se enxergam que todo o campo não é belo
monte que se perde pala vida
Mente expandida está fora de cotação
Mente expandida está fora de cotação.

Belo monte de lixo que se ganhará
em belo monte de lixo que se ganhará
em belo monte de lixo que se ganhará no lugar.

domingo, 10 de junho de 2012

Urgência de viver


Urgência de viver
Wesley Faria

Tenho nas mãos as linhas da vida
Carrego uma faca nos dentes,
Quando a linha se apaga lentamente
Ergo a lâmina ao vento
Corto a palma e reinvento
Uma nova linha para ganhar mais tempo.

Tenho a urgência que me consome,
Consumo a urgência que vem e some
Chama lenta, reza sem nome,
Tenho a pressa de quem passa,
Passo a ter muito mais fome.

--//--

Quando tudo for fim, só a poesia falará de mim.
W.Faria

quinta-feira, 7 de junho de 2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Cartas de Dante


Cartas de Dante
Wesley Faria

Para minha doce e amada Sofia.


Oh queria sofia, espero que o suor não lhe tenha corrompido os rubros montes pálidos
situados abaixo de teus olhos, espero também que estes não já tenham escurecido
seu lume. Oh doce e amada Sofia, rogo aos céus que finde a arder do meu ofício distante e que eu possa retomar teus braços como fiz a princípio deste ano de 1965, ano no qual nossos olhares duelaram pelo mesmo resquício de paz, ano no qual me emaranhei em teus cabelos e fiz de mim um penduricalho pomposo com direito a chapéu e gravatas de variadas cores e múltiplos nós, ano de sorvetes em torno da praça central, de passeios de bicicletas sem destino e mãos atadas em corrente.

Desejo tanto reter tuas lágrimas ao se lançarem rosto abaixo enquanto se mutila em pranto depois do cinema do final da tarde, lembra? quando seu pai nos vigiava pela fresta da janela, nós percebíamos e nos fitávamos somente de rastro para que ele não percebesse o "eu te amo" imerso em cada olhar. Ah quanta saudades tenho de nosso desjejum no parque, rodeado de rapazes em suas motocicletas aceleradas e seus violões desafinados, aos quais somente nós notávamos e ríamos baixinho em nossas críticas dotadas de supremos senso sonoro e maestrio conhecimento dos acordes, lembra-se de quão hilário parecia? pois eu me lembro de cada segundo segurando suas mãos, de cada suspiro pós-beijo, de cada sorriso rouco e tímido ao telefone.

Lembro-me bem por não ter memórias de dias melhores para que se sobreponham pouco a pouco às suas, lembro-me bem pois sãos estas memórias que me mantém acordado após tanto esforço em terras distantes. Os dias aqui não tem sido dos melhores e receio não retornar em breve para nosso pomar secreto, escondido por detras da casa de Dona Cândida, ou pensa que esqueci tantas escapadas após a missa para vigiarmos nossa macieira crescer? nunca soube de uma árvore mais lenta para gerar frutos, sorrio sempre ao me lembrar das regas excessivas e das podas desnecessárias que fazíamos com mister em herbologia e fertilização, éramos gênios minha doce, éramos gênios e ainda seremos quando novamente meus pés pousarem junto ao seu portão.

Hoje o comandante me pediu para declamar um de meus poemas preferidos, declamei o "Antes do por do sol" o qual escrevi para você se lembra? se não se lembra o cito abaixo como a recordação me deixar,

Antes do Sol.
Dante D'ávila

Quero teus olhos como luas a me fitar,
Quero tuas mãos como pedaços deste luar,
Quero teus dedos anelados pelo douro solar,
Quero tua boca, para que, de leve, possa me deitar,
Tudo isso quero, contudo, antes do por do sol,
Pois é quando o querer nos envolve em nosso lençol.
Sei que devo desejar o sol, mestre celeste da vida,
Mas desejo muito mais a tí, minha amada,
Mais ainda que a própria vida,
Posso dizer-lhe que poderia viver sem o sol,
Porém a imensa dor me mataria
Caso teu corpo não repousasse
Sobre o branco do meu lençol.


Após declamar este poema senti que tuas mãos estavam envoltas em minhas mãos e não mais sentí o frio que corrompia toda a tropa, hoje entendo, querida Sofia, que minhas linhas dedicadas à tí, não suprem apenas meus devaneios apaixonados e planos de amor, essas linhas alimentam de sonhos mais de 30 homens famintos e que, ao escutarem estes pensamentos sentem-se mais perto de casa, obrigado por estar comigo a cada minuto,
Sem mais delongas, despeço-me com os dedos arroxeados pela geada porém com o coração aquecido pela lembrança de teu peito junto ao meu.

Eternamente seu,
Dante D'ávila


23 de Janeiro de 1965.

A Dama do Casablanca

A Dama do Casablanca

domingo, 3 de junho de 2012


A Dama do CASABLANCA
Wesley Faria

Foi na noite da lua mais cheia, quando o cheiro da noite se misturava com brasa de cigarrilhas e perfumes baratos, quando as risadas pareciam não terem motivos nem alvos,nem ao menos bocas, eram apenas sons alegres, soltos no ar, hora e meia caiam na minha mesa.

O salão principal do CASABLANCA, nunca mais foi o mesmo depois daquela noite, quando o baile de verão tinha seu chão riscado pelo salto agulha dela,que, em cada passo, costurava meus olhos, alinhavam as batidas do meu peito e por fim, fazia um remendo novo com as linhas da palma da sua mão.

Eu já não me lembrava como tinha chegado ali, de certo levado por alguns amigos,
solteirões inconformados, escondendo sua frustração de descasados com as cachaças e jogos de baralho, de certo pensar na vida não é coisa que se faça dentro de uma casa noturna, ainda mais uma casa noturna como o CASABLANCA, de tamanha figuração e importante renome no nosso meio.

As janelas bem largas, as luzes bem fracas e um ventilador que girava lentamente enquanto o som do bolero deixava tudo mais profundo, visto que ao som de um bom bolero até mesmo pedir uma bebida ao garçom se torna uma cena de filme e lá fui eu interpretar meu big close:
- Por favor, um conhaque.

"puro ou com gelo?" o garçom me perguntou e devido ao questionamento pude notar que o rapaz não conhece de bebida de homem, de certo deve estar acostumado a bebericar os doces bebericos dos rapazotes, refrigerantes ou vinhos suaves, eu, um machão da minha espécie, o último lobo da matilha não poderia jamais deixar de demonstrar meus dotes alcóolicos, ou alcóolatras...Ah, que besteira, de fato enquanto dedico meus pensamentos sobre a reflexão oriunda da pergunta do pobre rapaz lá estou eu, parado,encarando o jovem garçom nos olhos a 15 segundos, sem responder sua simples pergunta,
acho que ele percebeu, pois a repetiu:

"Senhor, puro ou com gelo?" e eu respondi sem delongas,
- Com gelo, por favor.

Peguei minha bebida com cor e temperatura alterada pelo agrotóxico inserido pelo garçom e vou para a mesa mais próxima da janela, para olhar a cidadela que se move e mover meus pensamentos por aí.

Enquanto embalava meus cantarolares mentais senti uma vibração diferente no ar, um silêncio ao redor e sussurros apontados em uma só direção, a porta principal, que servia de moldura para uma elegante dama, que adentrava ao salão principal trajada com um condizente vestido verde claro, logo pensei, - Mas que cor mais brega para se adentrar em uma estória a ser lida em um sarau, mas como a estória é minha e de deveras não importa o tom do vestido dela, resolvi mudar sutilmente para criar uma imagem mental mais agradável, pois bem.

Sussurros apontados em uma só direção, a porta principal, que servia de moldura para uma elegante dama, que adentrava ao salão principal trajada com um condizente vestido vermelho, trazendo sentido para a noite que se perdia. Os homens, casados e não casados, se avolumavam por perto dela como corvos se aproximam, de....de...de coisas que os corvos gostam. Tratei logo de terminar o cigarro depressa e me levantei, me escondi devagar por baixo do chapéu e me encostei perto da porta do banheiro, afinal é o lugar mais certo de se encontrar qualquer pessoa que se queira na noite, a porta do banheiro é como um portal de passagem para uma outra realidade, no qual quem entra está com um semblante preocupado, apressado e sofrido e quem sai aparenta uma leve felicidade.

Aguardei até que ela se aproximasse, a olhei nos olhos, segurei o copo de conhaque com um ar elegante de quem entende de bebida e....

- Olá senhorita, notei que está usando um vestido que combina com poucas damas deste local, percebi também que entrou sozinha e seu sorriso me disse que essa não era a sua intenção para a noite toda, estou certo?

É óbvio que somente pensei em dizer isso, enquanto ela passou por mim, exalava uma mistura de rosas brancas com sol da manhã, entrou no banheiro e eu, com a cara mais envergonhada, mas sem perder a elegância voltei para o meu lugar.

A noite seguia seu rumo certo para dentro do negrume e eu seguia meu rumo certo para dentro...do meu copo. Quando menos percebi o bolero já tinha se semitonada em um tango
profundo como o El Tango de Roxanne. E posso não entender de bebidas, mulheres ou esportes, mas de tango meu amigo, é que eu não entendo nada mesmo, a única coisa que sei fazer direito é escrever e fazer um semblante de quem conhece tudo e nunca se amedronta, bom, essa última parte podemos dizer que quase nunca se amedronta, pois ouvi um som seco que aumentava pouco a pouco, vindo em minha direção, meus olhos foram ao chão e pude ver duas pontas de pés recobertos por um tom negro, um veludo fino e uma pequena fivela prateada.

De repente o som de sua voz me rasgou os tímpanos, nem ao cérebro passou, chegou direto ao coração, a doce voz que dizia "percebi que me seguiu até o banheiro" e eu, com o peito estufado resolvi assumir e respondi me levantando devagar - Sim, eu sei que você percebeu. Ela, com um sorriso preso aos lábios cujo batom tinha tom de risadas de crianças e cafés da manhã na praia, prosseguiu dizendo "oque queria comigo?"...e eu, na rapidez da invenção de uma história ridícula para suprir a dúvida, disse -EU? (mas quem é o infiél que responde a uma deusa na figura de dama, com uma simples palavra?) mas ela, sorrindo disse "Adorei seu senso de humor" e o sorriso foi estirpado de meus lábios em sacrifício a dama do CASABLANCA.

Ela me perguntou se eu a conduziria naquele tango sedutor e eu respondi prontamente que sim, chacoalhando os dentes feito cerca ao passar de boiada. Lá fomos nós para o centro do salão principal, éramos agora um casal de seres mitológicos, a libélula vermelha feita de sonho e poesia e o besouro de chapéu, feito de cigarro e tinta preta de caneta tinteiro.

O centro do salão era agora o alto de uma montanha longinqua, cujo topo é tocado pelo sol e a lua ao mesmo tempo, braços e olhares bem próximos, o som do violino e o cantor que não sibila cria a melodia perfeita para a poesia viva que bailava. Ao girar pelo local meus olhos exploravam cada face de ódio presente no ambiente, oriundas de homens cujas esposas abraçavam docemente, são os tais hipócritas aos quais A Srta. Carraro sempre lutou contra.

O som lentamente foi baixando e os passos estagnaram de uma só vez. Como quem diz "Olé". Ela me olhou nos olhos e se virou lentamente, seus cabelos tocaram minha boca lateralmente e ela se foi, serpenteando em direção a moldura inicial, a porta principal do CASABLANCA. Eu, como uma estátua de sal, pálio e petrificado no centro dos olhares não consegui ao menos pedir para que ela esperasse, sequer o nome perguntei, quanta inteligência.

Antes que eu fosse esquartejado pelos olhares lancinantes dos frequentadores da lendária boate saí do meu estado petrificado e acelerei o passo até a parte de fora do local, nem rastro dela, me peguei raciocinando sobre um possível ataque esquizofrênico noturno e me autodiagnostiquei são, nada de patologia nem mitologia, eram sensações e lembranças bem reais para serem tratadas como o cristianismo trata seus fatos políticos ou históricos, nada naquela noite havia sido sobrenatural.

Voltei ao ponto de partida e me sentei novamente, acendi outro cigarro e lá fiquei, tentava ligar os pontos mentalmente, tentava fazer mentalmente o mapa atral que me justificaria a volta dela aos meus dias, logo peguei uma caneta, algumas folhas molhadas por cerveja e comecei a escrever o registro dos fatos ocorridos, um texto cujo título havia sido entalhado no átrio direito do meu coração, o título, todo em caixa alta, podia ser lido de longe, bem de longe e está lá até hoje, registrando o dia em que meus olhos tocaram de forma quase espiritual "A DAMA DO CASABLANCA".

quinta-feira, 31 de maio de 2012

domingo, 20 de maio de 2012


Flor da Candeia
Wesley Faria

Na acinzentada lua branca, 
uma luz toca o chão frio da varanda
A cadeira debaixo da janela,
umas roupas no varal,
Um livro de nietzche,
um de bretch ou de suassuna, 
não consigo ver direito o autor,
Aqui deste quintal,
Aliás, não sei nem se nietzche existiu de fato,
Já Cancão, Zé da Luz e Suassuna eu garanto o relato.

A luz vinha de leve e temperava a plantação,
Enquanto o café bulia o cheiro da paz feita a mão, 
Um perfume de flor branca me arrancava do chão,
Escrevia verso e poesia, na mente, no peito e na mão,
via a cor da luz do dia, No meio da noite, bem no vão.

A casa, de escura se transformava,
Quando ela, devagar, passava,
Do quintal eu posso ver,
Luzes feito asas saindo de suas costas,
Uma saia engomada, com fitas brancas bem postas,
E Um andar assim macio, feito orvalho na roça,
Eu de longe espiava, que era pra não ser notado,
Afinal nunca deu em coisa boa, espiar envergonhado,

Para espiar é preciso ter coragem,
Pois se tudo der certo como é que se vai fazer?
Não se pode deixar a ocasião, aos poucos covalecer,
Então para olhar ligeiro, mesmo assim sorrateiro,
É preciso muito mais peito do que galo de terreiro.

Ainda mais para espiar uma moça tão distinta, 
Que merece só se olhar, 
Pra tocar com a mão já grossa de tanto trabalhar,
É preciso botar luva, pra sua pele não arranhar
Mas a moça ia e vinha, acho até que se engraçava
Pra um moço mieo sonhador que de longe a observava.

Eu, tremendo de tanto frio, ou de tanto medo mesmo,
Não consegui manter o semblante de homem caminhante,
Que não estava observante, tava mesmo só passante.

Enquanto eu me aprimava, a lua se apagou, 
Feito nuvem que se vai e a moça se adentrou 
na casa de vosso pai,
Todo dia eu espiava, quando voltava do trabalho,
procurando aquela moça, aquele cheiro, naquele horário,

Nunca mais eu vi a moça, Nunca mais o cheiro bom,
Nunca mais a luz da lua, nunca mais o velho tom,
Mas quem sabe ela volta um dia, com sua pele macia
e seu cheiro de flor, seu andar ajeitado,
que me carrega por onde for,
E resolve dar uma olhada, 
pra esse jovem escritor.

domingo, 13 de maio de 2012

"Não acredito em uma paixão que não possa virar canção." Wesley Faria

"Não acredite em nada que não possa virar canção." Wesley Faria

terça-feira, 8 de maio de 2012

O último homem

O último homem
Wesley Faria


quando o último gole for derramado,
quando o último grito ficar rouco,
quando o lampejo for um lume riscado,
quando o último cristo ficar louco,
quando o calvário for um corte solto,
o homem entenderá seu valor,

Quando a última moeda perder seu brilho,
quando a última nota for rasgada,
quando a última estrela cadente tombar,
quando a última página for lida,
quando a última folha secar,
o homem entenderá seu valor,

Valor imaginário, dissoluto em barro seco,
valor seco, dissoluto em barro imaginário,
barro da vida, dissoluta em valores secos,
Secos homens caminharão sobre a terra,
tentarão semear as últimas farpas de vida,
tentarão aguar as últimas memórias de sonho,
ruminarão pesadelos nucleares,
colherão rosas de onde nem o lodo nasce mais,

Homens e mulheres migrarão, filhos em punho,
punhos de crianças servirão de brasões,
serão então imigrantes de uma terra de ninguém,
serão então imigrantes de uma terra de ninguém,
onde ninguém mora ou morou,
onde ninguém sonha ou sonhou,
onde ninguém caminha ou caminhou,
onde ninguém jamais existiu,

Quando o último golpe for dado,
e a luz tocar a fronte,
o último homem, de cima do monte,
desejará nunca ter entendido seu valor,

Quando o último golpe for dado,
e a luz tocar a fronte,
o último homem, de cima do monte,
desejará nunca ter entendido seu valor,
podendo assim caminhar com seu sorriso
entalhado a lâmina fria no rosto de mármore,
Desfrutará da doce ignorância que move os seres,
Caminhará com passos largos,
pisará na lama e verá jasmins,
sentirá envolto ao amor dos muitos,
mesmo solitário em sua prisão invisível,
caminhará onde ninguém caminhou,
existirá onde ninguém existiu,
Conquistará oque ninguém conquistou
e desistirá, quando ninguém desistiu.


sábado, 5 de maio de 2012

Conto de um pequeno amor


























Conto de um pequeno amor.
Wesley Faria

Conta  a história de uma menina órfã que nasceu em uma pequena cidade do interior chamada Nova Esperança, filha de agricultores cresceu sem muito estudo e muito conhecimento do que vinha a ser o amor, sempre dedicada ao campo e as coisas de casa um dia, como era de costume, ela foi ao meio da plantação da familia e se deparou com um espantalho sorridente que lá estava, fazia sombra para as folhas novas e para os bichos que ali se deitavam, em um momento de introspecção sentiu que a mão do espantalho recaia sobre seu ombro, muito apavorada ela olha para o espantalho e diz, quem é você para tocar em mim? não sabe que sou pura de coração? neste momento o espantalho, aquele ser sem vida e sem luz responde a menina:

"como pode se julgar pura sem saber oq é a sujeira?"

ela se ajoelhou, olhou para a procissão de sentimentos que trazia no peito e percebeu que para nenhum deles ela poderia dar o nome de amor e perguntou ao espantalho:

- e como faço para conhecer o amor?

o espantalho olhou, com seu tom de terra envelhecida e suas vestes de judas e disse quase que sussurrando:

"para conhecer o branco, deve se conhecer o preto,para se ver o céu, deve-se ver a terra,assim, não se conhece o amor sem viver a tristeza e não se vive a pureza sem provar da sujeira,por isso quando quiser conhecer o amor,pense bem se já conhece os outros sentimentos, afinal, só quando conhecer a direção errada poderá imaginar um  caminho melhor, antes disso...
...toda contramão será o caminho certo.