quarta-feira, 4 de julho de 2012

Divina Sabotagem


Divina Sabotagem
Wesley Faria

Como pode ser ridículo o velório de quem não envelheceu,
Para o velado que amara o assunto não narrado.
As senhoras chorando sobre um corpo que pereceu,
Imagino a angústia da alma ainda presente,
Como quem é tirado do jogo assim de repente,
Golas molhadas e broches enfeitando as lapelas,
Lágrimas, velas e flores amarelas.

Imagino os passos lentos e o pensamento apressado,
Daqueles que ficam e desejam que anos passem em segundos,
O segundo terço acaba de ser finalizado,
O líder da cerimônia deixa o púlpito aberto para os recados,
Lágrimas, velas e um paletó gelado.

Um padecer tão precoce, um 'ir embora' pra Oxóssi,
Voltar a ser natureza, voltar a ser matemática,
Um existir tão macio, sem espaço para o vazio.
Sustenido suspenso em uma dó bem maior.

Na lista do que não faria, fiz de tudo que só eu queria,
Não desisti de sonhos em minhas andanças,
Pintei os muros com minha poesia,
Ficam alguns versos por terminar,
E alguns passos que outros pés poderão caminhar,

É hora, mesmo que antes, é hora,
Vou por aí, escrever por sobre a nuvem,
Sentar lá em cima e balançar os pés,
Jogar poemas em papel amassado,
Disfarçados de gotas de chuva,
Sobre as sombrinhas e no meio das ruas.
Fumar meu cigarro com o vinho do lado,
Se é que poderei ainda ser assim.
Viver a vida mais nua.

Divina sabotagem,
Que me mostra o tamanho que tenho,
Terei o tamanho que sei,
Se deixei angustia ou desdenho,
Sei que mais memórias deixei,
Cenas sorridentes sem fim,
E por fim oque vão encontrar,
Será uma grande constelação de mim.

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