segunda-feira, 18 de junho de 2012

Insetos Invisíveis


Insetos Invisíveis
Wesley Faria

Ás vezes o sol toca a terra, demora muito pra acontecer, demora um dia inteiro e dura só um segundo, mas nesse segundo dá pra se fazer uma infinidade de coisas, os casais encontram nesse segundo uma eternidade para se fazer amar, a eternidade do beijo, os velhinhos, sentados nas varandas encontram o alarme que indica que já é hora de entrar. Minha vó costumava a dizer que quando o sol toca a terra é hora de se rezar uma Ave Maria, eu me lembro que eu ainda era pequenininho quando aprendi a rezar a Ave Maria, e ficava imaginando q era uma ave muito grande, que voava sem parar por cima da gente, protegendo, cuidando daqueles que não podem cuidar de si. Aí ia pra rua brincar com meus amigos, de pé no chão, pulava o muro correndo e me sentia um super herói, vestido com capa de bujão e espada de régua escolar. Eu voava por sobre os peões que giravam sem parar e catava goiaba em um quintal que tinha bem pertinho da minha casa, eu lembro que eu sempre chamava Carlinhos, que era um menino que morava perto desse quintal. Lembro que os olhos de Carlinhos, quando eu chamava pra catar goiaba comigo, nunca me olharam a fronte, ele sempre estava muito ocupado com seus insetos invisíveis, aos quais seguia fielmente, seus olhos pareciam fazer desenhos no ar e eu ficava indignado, como pode um menino preferir brincar com insetos invisíveis ao catar goiaba comigo? Pular o muro, correr descalço e fazer firula com o canto das lavadeiras lá na beira do rio? Mas minha brincadeira sempre acabava, eu sempre me cansava e voltava pra casa com os lábios roxos de frio, e Carlinhos estava lá, sentado, com o mesmo sorriso contido, mais uma vez não entendia como ele poderia ser tão forte ali parado. Demorei pra entender que os olhos de Carlinhos não desenhavam no ar, demorei pra entender que seus sonhos não eram apenas brincar com insetos invisíveis que o seguiam, só mesmo quando perguntei a mãe dele porque ele não podia sair e correr comigo, ela sorriu e me disse “Ele tem o próprio mundo dele meu filho” nesse momento acho que experimentei pela primeira vez a inveja, como podia uma pessoa ter um mundo inteiro dentro dela? Com planetas, cometas, espaçonaves, luas e sóis. Senti uma vontade enorme de sentar ao lado daquele menino, assim, sujo de goiaba e barro seco e tentar aprender como é que eu fazia pra ter um universo só pra mim também, onde eu poderia ser livre, voar, onde Carlinhos me ensinaria a ser o que eu quisesse ser, sonhar com o que quisesse sonhar, até mesmo flutuar por cima das casas e das pessoas, como aquela grande Ave Maria, que minha avó me ensinou a rezar.

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