sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Cabeça de Bacia


Lavadeiras sempre me ensinaram a viver em um mundo que se renova, como o rio, a cada segundo. Assim não existe um só momento no qual não olhe para um rio e tente me igualar.

Cabeça de Bacia
W.Faria

Pai, quando não houverem mais mentes fora d'água,
Rogo pelos que sofrem com a vida beira-rio,
Quando não houverem mais credos calcados na moeda,
Rogo paz para aqueles que vivem com a vida enlameada,
Que vivem a vida de erguidas e quedas.

Pai, o mangue que dá vida dá também a cor da lida,
Transforma a reza em cantoria e faz do sonho dor parida,
Pai, leva meu atalho pra bem perto de você
E mostra teu olho no nevoeiro pra que assim eu possa crer.

Peco sei que peco mas aprendemos com você,
Pois teu filho só é filho quando imita oque se lê,
Aprendi a paciência com as mulheres d'água,
Que carregam suas roupas em seus cestos prateados,
Aprendi com seus passos que sapateiam no guizado mouro,
Feito o riso envolto ao choro das mulheres ladainhas,
Das mulheres verdadeiras, com cabeças de bacia,
Com seus filhos ainda no ventre e a voz leve e macia.

Pai, sei que escuta os pesares, sei que lê as cartas breves,
Porém um dia, se quiseres entre e veja oque passou,
Antes da nuvem de mágoa, antes do trovão que a rasgou,
Quando não houverem desculpas para explicar quem vai,
Quando não houverem línguas para dizer que o tempo chegou.

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