quarta-feira, 15 de julho de 2009

Oração aos Amigos


Amigos meus, que os anos arrancados de vossas vidas sejam devolvidos em forma de paixões e não só na paixão carnal que consome o mundo, deturpa com suor o corpo que vela pelo amor de verdade, que espera a volta da profundeza amargurada do se fazer amar. Que sejam como a pátria de Vinícius de Moraes, assim como se não fosse pátria.

Que os anos passem devagar, que passem como íntima reforma e vontade de chorar.

Que descubram em cada gota de orvalho um poema que aguarda para ser amparado. Que sorriam amigos meus, assim como eu sorri na vida. 
Que sorriam ao lembrar da primeira canção de ninar que cantaram para suas filhas e filhos, primeiros sorrisos, primeiras noites sem dormir. Que tenham filhos, que beijem seus olhos e descubram que os filhos são extensões de nós mesmos. Que os assistam mudarem de ares, cores, cabelos e sons, que achem isso lindo, que vejam como o tempo brinca com seus cabelos e os moldam a favor da idade.

Amigos meus que alvejam a mocidade tão de leve, aprofundem-se na lama do real e apavorem-se ao descobrir que o bem maior do mundo é se fazer feliz. Vejam as cidades, e quando lá estiverem, percebam como elas iluminam em seus lábaros estrelados e apagam sob a luz do sol.

Andem onde houver espaço, conheçam o Rio, acima de tudo, conheçam o Rio, o Rio pela 
manhã. Falem sobre o que quiserem. Falem, não vos emudeçam. Sintam nostalgia, aquela gostosa lembrança que nos emociona e nos fazem ter vontade de tocá-la. Lembrem-se de que quando estavam a contemplar o poente diziam que seu tempo iria chegar, pois bem, ele chegou!


Evoluam amigos, evoluam.

Cheguem a algum lugar, a fronteiras, a segredos, e sejam seus próprios guias amigos. Descubram, descubram sem melancolia que a vida é um emaranhado de nós, ora firmes ora desleixados e acima de tudo, partam sem medo de voltar, sem remorsos, sem o pavor de cruzar solidões, de viver ao léu. Percebam que a vida não nos arranca os anos, apenas nos ensina que para viver não se pede nada além de se dar por completo. Sejam pomares de paixões, sonetos humildes como canto de mulher que, de tanta graça, nos dá a leveza de sofrer como bobos, sob as muitas luas das esquinas, de sentir o vento no peito e dizer: Eu vivi, eu cruzei caminhos, chorei, errei, mas como os dias, nunca deixei de renascer a cada amanhecer.



Torto e roto, eu vivi. Vivam amigos, descubram o que são e amplo emaranhado de sim e não, de dor e paixão. Esbravejem em alto e bom som, para que até mesmo você possa entender, Esse sou eu! cara a cara com a vida, com os sabores!

Enfim amigos meus, morram em paz, se orgulhem de terem percorrido seu caminho e que a cada milímetro do chão tenha uma marca de seu suor. Sejam amigos de vossos amigos, de seus pais, amem seus pais, abracem seus pais, abracem como quem diz adeus, pois nunca se tem certeza da hora do fim.

Sejam meus amigos, pois não suportaria ancorar-me no nada sem porto, amem-se e amem o mundo, assim vivam em paz e morram com alegria.



De repente o sol, de repente a lua os reencontrarão a marcar seus passos sob um pedacinho do céu.
E quando se forem de vez, tornando-se poemas livres e leves, lembrem-se de terem deixado uma pedaço de vocês em cada canto, assim será mais fácil para os que ficam, sejam como forem, santos ou demônios pelo amor de Deus, sejam amigos meus.




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