W.Faria
O rio que rasga a terra,
Que traz pedra, peixe e vida,
Da de beber a bicho, e gente,
Gente que nem mais acredita.
Com seu lençol transparente,
Move o mundo num repente,
E faz o mangue criar vida.
Meus pés se calçam de rio,
O rosto se vê já tremendo,
E a água não é nunca a mesma,
Vai por aí se refazendo,
Recriando movimentos,
E se moldando ao tom do vento.
As beiradas ensopadas,
Em leve deslocamento,
Se aquietam ligeiras,
Quando surge o barravento.
As mãos da moça que enxágua,
Fazem torpes unhas e saias,
Mas lavam os sonhos mais belos,
castelos, farturas e praias,
Chegam a sonhar em ser rio,
Para irem se movendo,
Em puro molde do tempo.
A beira do olho d'água,
Uma doura mulher me chama,
Me sorri e me acena,
É quando o rio se inflama,
Rasga o peito e se derrama,
corre nas veias as curvas de suas águas,
E os pés, já calçados de rio,
Dão leves e lentas passadas.
Foi lá, na beira do olho d'água,
Onde minha mãe chorou,
Onde meu avô se sentava,
Com a vara de pesca moída,
E o anzol velho e torto,
ficava lá toda a vida,
Esperava o peixe suposto,
Voltava de mãos abanando,
Dizendo que o peixe maior,
Vinha mesmo lá pra agosto,
Aí voltava pra casa,
Com um sorriso largo no rosto.
A água tem dessas coisas,
lava, leva e se refaz,
desaguam nelas os sonhos,
E criam-se muito mais,
Sorrindo, como o rio, me vou,
No mesmo rio comprido,
Onde minha mãe chorou.
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