quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Quem vem lá?



Quem vem lá?
W.Faria

Quem vem lá?
Quem desce a ladeira
Com mãos atadas em nó?
Quem vem lá?
Quem me enche de histórias pra contar?
Quem é aquele que chega como tormenta,
Fica como lagoa ou açude,
E se vai como rio para um espaço maior?
Ele vem, sei que vem, mas quem vem lá?
Por trás do monte vermelho,
Por entre as serras talhadas pelo laminar do vento,
Por mais que queira não o vejo bem,
Ainda que veja não entendo,
Ainda que entenda, tenho medo.

Medo de me quedar descalço,
Sobre o chão pálido e frio,
Sobre a umidade causada pelos antigos sentires,
Devo estar sonhando, germinam em minha frente brotos de amor,
Flores de sorriso, lágrimas de paz,
Um minuto de silêncio para tratar dos meus feridos
Sem deixar nenhum para trás.

Então me diga quem vem lá?

Neste ir e vir que oscila entre tropeços e corridas,
Neste chegar, que rasga minha paz, queima meu tempo,
Come minha comida, deita em minha cama,
Faz cama da minha paz e se vai,
Parte para outro campo,
Faz cena de novos tempos,
Faz tempo de novas cenas,
Incendeia pastos,
Desvaloriza astros,
Torna ébrio o poeta,
Faz do agora eternidade.

Se vai, como se nunca houvesse chegado,
Como se nunca me houvesse desejado,
E eu, fico aqui,
Sentimento acorrentado,
Coração recém-flechado,
Orando baixo com meu sangue pisado.

Vê meu olho mareado?
Vê minha mão que treme?
Vê meus pés que param?
Vê meu peito que gela?
Vê a mim?
Vê a mim?

Jovem alma que espera o luzir da luz mais amarela do amor,
Que senta diante do rio e espera a Iara me lavar a dor,
Mirando a água e meu reflexo torpe, diluído em tons borrados,
Tentando entender meus passos e porque estão parados,
Tentando esquecer meus mortos, plantando de novo no descampado,
Sussurrando o que não quero mentir, mentindo tudo que sussurro.

Ele veio como vento, me tomou como brisa, me tocou como chuva,
E se foi como rio.

Eu, que nunca soube nadar, permaneço como canoa que desliza,
indo, pouco a pouco, para o alto mar.

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