terça-feira, 6 de março de 2012


Circo de deus.
Wesley Faria

Debaixo do céu faiscante do trovão,
Na melodia da noite,
No balé das nebulosas,
Róseas como recém nascidos que aprendem a respirar,
No ar frio da escuridão,
O circo noturno com estrelas penduradas na lona esticada no chão.

As acrobacias dos cometas que cruzavam por sobre a platéia,
Deixando cair pedidos e pesares em pleno dia de estréia,
Nessa cena sombria cravejada de brilhantes,
Se criou o primeiro espetáculo, um circo itinerante,
Por um fetiche divino um circo de retirantes.

Malabares flamejantes cortavam o teto itinerante do show,
e os passos da bailarina celeste fazia palco de onde passava,
Inverno, verão, temporada.

"Respeitável Público" o criador gritava,
Enquanto da lama do mangue seu filho iluminado,
"venham ver, venham ver meu filho pródigo"
Falava meio cabreiro,
Pelo bicho recém criado.

A neblina pintava a lona, a lona cobria o dia
o dia caiu em coma, com o nascimento da poesia

E deus se foi no balanço, indo e vindo sem pensar,
sorria feito criança, no circo noturno, a soluçar
Seus dias ficaram pálidos quando o homem pôs a gravata
e os sorrisos ficaram densos, mais densos que o vapor de lata,
bem mais quentes que a luz do olofote santo.

Foi quando deus cobriu com o seu manto,
O circo que havia criado e o homem de bicho santo,
Ficou qual riso de palhaço, riso solto, caindo por onde passa,
Mas servindo de armadura para a angústia que não desata.

E deus fechou o circo e o show foi cancelado
Pois o homem colocou preço no ingresso que era dado,
Hoje o circo está de luto, pois não circo amordaçado,
E o céu de melodia não pode mais ser escutado.

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