segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Quando nascem as marés
Quando nascem as marés
Wesley Faria
I - Frente ao mar a morena chorou.
Nas dobras do sorriso existem mares de saudade,
Cujas ondas tecem leves ondas que se quebram no vazio do agora,
Ondas bordadas com esbranquiçadas orações, rosários ponteados aos prantos, são marés derradeiras, navegadas por longas naus que se iluminam pelas velas dos olhares que não se apagam frente ao imenso mar.
"Ele vem, me prometeu arpejos solfejados aos meus ouvidos,
Prometeu-me arrancar as âncoras do peito e poupar-me as pegadas e os castelos arenosos frente ao desejo de encarar a embarcação de sua saudade e combatê-la com o cais do meu corpo".
II - As velas de um barco tardio.
Ensinando o vento o caminho,
A embarcação cortava o negro espelho de céu,
Mirava o porto e seguia seu curso nostálgico,
De proa a popa entalhes de maresia.
O balançar do casco desenhava cinturas na água,
Tingia o mar com as cores do cabelo dela e cantava seu som assoviado no vai e vem da gélida água noturna.
Já era possível ver o vento que cintilava seu brilho de microgrãos de areia tocar os cabelos dela e lançarem o perfume ao ar, que pela piedade divina da saudade carregava até as velas da casa marinha que encurtava a distância e aumentava o palpitar cardíaco da flor na beira dágua.
III - O choro de Oxum
O casco se apruma em meio as madeiras mal pregadas do velho porto, os passos tornam-se flechas rumo a pequena escada feita de tábuas semi apodrecidas pelos suspiros das águas.
A luz no peito dela se acende mais que o sol de fim de tarde que se jogou no mar, olhares infantis e um leve suor na face de candeia.
As velas caem, aportam-se todos os abraços pertencentes a suas senhoras, que por sua vez conduzem os acordes das canções lavadas a bebidas até suas casas.
Um som seco de passo faz a velha ponte ranger e a notícia lhe toma o peito como o fogo que consome a palha seca, o mar se torna pequeno frente a tanta água que brota dos olhos dela, que de iluminados se tornam tochas que se apagam com as dores, pouco a pouco.
IV - Flores ao mar
O sol beirava o horizonte quando a areia consumiu de vez suas mãos espalmadas na praia. A lama produzida pela dor do amor perdido nas águas turvas de um mar bravio foram as últimas gotas produzidas por aqueles olhos negros, olhos cor de mar, olhos cor de saudade. Seus passos tomaram rumos desconhecidos e seus cabelos uniram-se ao suor do corpo frente ao oceano.
Lentamente seus pés cortaram a primeira onda da manhã, cruzou a primeira pedra submersa, o corpo aparentando sua semi-crucificação tornou-se mais leve que sua alma e deixou-se levar pela cor do dia, fez-se tarde e por fim criou raizes feito algas em chão de onda e seus olhos que miravam as primeiras estrelas com suas luzes brancoazuladas agora miravam as estrelas d'água com seus tons róseojuvenis.
Seu suspiro submerso é agora o moinho para os barcos que e galés, pois antes do pranto dela não existiam as marés.
V - Males e marés
São demais as dores desta vida,
E quando a dor é quem ensina não existe quem não aprenda,
A dor da morena que clama agora é a valsa cantada que ensina que cada açoite é uma onda que bate, é uma lestada da noite,
E a noite nunca se refaz quando um amor acaba,
São os olhos que decidem as profundezas, as densidades e os pés,
e cada um rema seus medos, seus males e suas marés.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Se eu pudesse
Se eu pudesse
W.Faria
Se eu pudesse não gingava os cabelos,
Não dourava os pelos ao sol,
Não sorria nua pra ti,
Não seria mulher que se desnuda a mentir.
Se eu pudesse, não ouvia-te os versos,
Não pintava universos,
Escapava de ti,
Deixava-lhe esperar,
E seria mulher do tempo,
Enquanto o tempo durar.
Mas não posso, pois arrancou-me a alma,
Como alquimistas sábios,
Naquela noite que lhe dei de presente meus lábios.
Pequena oração
Pequena Oração
W.Faria
Meu deus, não me permita que eu diga "eu pertenço a este lugar",
Não me deixe nunca dizê-lo, pois pertenço somente a poesia,
Quero conservar o olhar semi-estrangeiro do deslumbramento pela vida,
Em qualquer parte do mundo,
Por isso meu pai, não me deixe criar rais, nem por um segundo.
W.Faria
Meu deus, não me permita que eu diga "eu pertenço a este lugar",
Não me deixe nunca dizê-lo, pois pertenço somente a poesia,
Quero conservar o olhar semi-estrangeiro do deslumbramento pela vida,
Em qualquer parte do mundo,
Por isso meu pai, não me deixe criar rais, nem por um segundo.
Por quem teu peito arde
Por quem teu peito arde
Wesley Faria
Quero ter o apelo de barco que volta,
Ter a cor do teu casaco quando se vai,
Ser sua guardiã frente a trama,
Fera ao teu lado e uma bailarina na cama.
Ser a dor quando se curva para me beijar,
Quero ter na pele todas as marcas de teus amores,
Wesley Faria
Quero ter o apelo de barco que volta,
Ter a cor do teu casaco quando se vai,
Ser sua guardiã frente a trama,
Fera ao teu lado e uma bailarina na cama.
Ser a dor quando se curva para me beijar,
Quero ter na pele todas as marcas de teus amores,
Ser o peso da vida quando outras lhe desejam a leveza,
Sendo assim, sua, sei que posso ser crua.
Quero ser a praia onde seu barco descansa,
Ser flecha que se lança e no fim da tarde,
A mulher por quem teu peito arde.
Sendo assim, sua, sei que posso ser crua.
Quero ser a praia onde seu barco descansa,
Ser flecha que se lança e no fim da tarde,
A mulher por quem teu peito arde.
Cabeça de Bacia
Lavadeiras sempre me ensinaram a viver em um mundo que se renova, como o rio, a cada segundo. Assim não existe um só momento no qual não olhe para um rio e tente me igualar.
Cabeça de Bacia
W.Faria
Pai, quando não houverem mais mentes fora d'água,
Rogo pelos que sofrem com a vida beira-rio,
Quando não houverem mais credos calcados na moeda,
Rogo paz para aqueles que vivem com a vida enlameada,
Que vivem a vida de erguidas e quedas.
Pai, o mangue que dá vida dá também a cor da lida,
Transforma a reza em cantoria e faz do sonho dor parida,
Pai, leva meu atalho pra bem perto de você
E mostra teu olho no nevoeiro pra que assim eu possa crer.
Peco sei que peco mas aprendemos com você,
Pois teu filho só é filho quando imita oque se lê,
Aprendi a paciência com as mulheres d'água,
Que carregam suas roupas em seus cestos prateados,
Aprendi com seus passos que sapateiam no guizado mouro,
Feito o riso envolto ao choro das mulheres ladainhas,
Das mulheres verdadeiras, com cabeças de bacia,
Com seus filhos ainda no ventre e a voz leve e macia.
Pai, sei que escuta os pesares, sei que lê as cartas breves,
Porém um dia, se quiseres entre e veja oque passou,
Antes da nuvem de mágoa, antes do trovão que a rasgou,
Quando não houverem desculpas para explicar quem vai,
Quando não houverem línguas para dizer que o tempo chegou.
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